No prefácio de "A Dança Sozinho" (Editora Pradense), que autografa neste sábado, às 18h, na Feira do Livro de Caxias, Armindo Trevisan cita Bachelard e suas reflexões sobre o amarelo de Van Gogh, frisando: "ou o leitor se dispõe a mergulhar, ou ele é gentilmente convidado a deixar Van Gogh entregue ao silêncio de seu museu em Amsterdam."
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Outro mote provocativo de Bachelard é "o inconsciente não se civiliza". É entorno do sentido pelo gosto estético que o escritor, poeta e especialista em arte reúne textos e ensaios sobre estética e literatura no livro e na palestra também programada para a tarde deste sábado, às 17h, no auditório da Feira. Antes, às 14h, ele participa de um encontro de ex-patronos da Feira na Casa do Meio. Em todas intervenções, a ótica é da atualização de conceitos.
– Preocupado estou em redefinir o gosto estético, graças às descobertas efetuadas pelos bioquímicos e neurocientistas contemporâneos, que trouxeram verdadeiras iluminações às reflexões antigas e modernas dos autores dos tratados de estética. Podemos dizer que o gosto estético não é a mesma coisa que por ele entendiam alguns esteticistas do passado, que o intelectualizaram em excesso, tornando-o uma espécie de noção abstrata. Ele é uma sorte de sentido psicofísico. Constitui uma sorte de extensão especificamente humana da faculdade perceptiva do homem – argumenta Trevisan.
Para além da revisão e reorganização dos 22 textos que agora reapresenta aos leitores, o autor também é provocativo a respeito da necessidade da construção recorrente de exercícios de fruição.
– É preferível que um indivíduo sinta alguma coisa perante um objeto grosseiramente ou grotescamente assemelhado a um objeto artístico, ou de uma dimensão artística menor, a que ele se ponha a falar abstratamente sobre arte. Arte é, antes de tudo, sensorialidade e sensibilidade em ação, não arranjo ou sofisticação mental – descreve.
Esse senso estético deve ter, portanto, a perspectiva de um paladar a ser apurado no contexto da sociedade de consumo.
– Nossa época substituiu, em grande parte, a experiência estética e artística eruditas por uma espécie de experiência estética e artística prêt-à-porter, isto é, de consumo fácil. A isso se tem chamado indústria do entretenimento. Mas convém não exagerar as coisas. Em todo entretenimento, mesmo no mais kitsch ou mais vistosamente apelativo, existe um resíduo da experiência estética erudita. Dito de outra forma: o homem não pode nunca abdicar de sua condição de animal racional. Desde que se entenda que racionalidade não é simplesmente o lógico, o tecnológico, o que pode ser reduzido a algo insensível. A corporeidade humana está presente até na concepção mais espiritual.
Um paladar estético
Armindo Trevisan lança livro e palestra na Feira do Livro de Caxias
Escritor também participa de encontro com ex-patronos da feira
Carlinhos Santos
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