A história política e cultural do Rio Grande do Sul são fontes importantes para o trabalho de Tabajara Ruas. Natural da Uruguaiana, o escritor (autor de mais de 10 romances) e cineasta forjou sua filmografia com um documentário sobre Leonel Brizola, além dos premiado longas Netto Perde Sua Alma – que recuperou um personagem até então obscuro na história da Revolução Farroupilha – e Netto e o Domador de Cavalos – que conferiu nova versão à história do Negrinho do Pastoreio. Agora é a Revolução de 1923, momento em que o Estado dividia-se entre chimangos e maragatos, que serve de pano de fundo para o mais recente trabalho do diretor, o épico Os Senhores da Guerra, estreia no GNC Caxias nesta quinta.
O roteiro é baseado na obra homônima de José Antonio Severo, que reverbera a impressionante e pouco conhecida trajetória dos irmãos Bozano, separados por ideais políticos. Apesar das diferenças – Julio (Rafael Cardoso) é chimango legalista, enquanto Carlos (André Arteche) é maragato revolucionário –, a dupla é mostrada sempre com muito afeto. E é justamente esse laço familiar entre os dois o responsável por conduzir a trama com pitadas generosas de romance.
– É uma história que a gente acaba não conhecendo nos livros. Ter a oportunidade de retratar isso é uma maneira de fazer a parte social do nosso trabalho: fazer as pessoas pensarem. É gratificante e fico muito orgulhoso, puxando pelo bairrismo mesmo, participar dessa obra – disse o ator Rafael Cardoso, em entrevista ao Pioneiro quando filmava o longa em Bento Gonçalves, em abril de 2012.
As filmagens percorreram pelo menos 11 cidades do Estado, entre elas São Francisco de Paula e Garibaldi, além de Bento. Com muitas sequências ao ar livre – os muito bem executados combates são, sem dúvida, um ponto alto do longa – a paisagem local mais fácil de ser identificada na telona é mesmo a nossa Maria Fumaça.
Apesar da ligação maior com a história de Santa Maria, afinal Julio Bozano foi prefeito da cidade e 1924, Os Senhores da Guerra carrega grande vocação para agradar em cheio o público gaúcho num geral. Aliás, a estreia em plena Semana Farroupilha não é acaso, já que o longa contempla elementos muito populares na cultura do Estado, como a narração declamada, a bonita trilha sonora sob direção de Pirisca Grecco e um elenco cheio de rostos conhecidos por aqui – entre eles Leonardo Machado, Marcos Verza, Marcos Breda, Nelson Diniz, Zé Victor Castiel e até mesmo Bagre Fagundes.
O modelo de narrativa escolhido por Tabajara Ruas deixa clara uma intenção de levar o filme às telas de tevê. Os Senhores da Guerra tem cara de série, com respiros de romance, galãs em cena, bastante trilha, etc. As cenas ao ar livre são as que mais chamam atenção e conferem o tom épico e a competente fotografia do longa. Outro trunfo do diretor está em, assim como em Netto Perde Sua Alma, jogar luzes em personagens que não figuraram entre os protagonistas da tantas vezes contada história do RS.
Prêmios: Os Senhores da Guerra participou do circuito de festivais em 2014. Em Gramado, recebeu dois kikitos: melhor atriz coadjuvante para Andrea Buzato e prêmio especial do júri.
Veja o trailer:
Cinema
Longa "Os Senhores da Guerra", com cenas gravadas na Serra, chega ao GNC Caxias nesta quinta
Filme dirigido por Tabajara Ruas tem Rafael Cardoso no elenco
Siliane Vieira
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