Os seguranças do convento Santa Maria delle Grazie, em Milão, ficaram desconfiados quando Fábio Panone Lopes apareceu no local com um canudo "suspeito" debaixo do braço. Responsáveis por manter a ordem no templo italiano que abriga a célebre pintura A Última Ceia, os guardas não desgrudaram o olhar do grafiteiro caxiense enquanto ele se dirigia à sala onde, em 1497, Leonardo Da Vinci pintou uma de suas obras mais famosas. O mistério só foi desfeito quando, em frente à parede em que o gênio renascentista retratou a refeição derradeira de Jesus e seus apóstolos, Lopes retirou do tubo prints com sua releitura da cena bíblica.
– Foi muito bacana estar na frente de onde o artista pintou o original – conta, orgulhoso por ter sido aplaudido pelos turistas que conferiam o mural.
O curioso episódio é apenas um dos vividos pelo grafiteiro na temporada de dois meses na Europa, da qual ele recém retornou. Ainda em Milão, participou, como convidado, de festivais de arte. Em Roma, realizou ações sociais com refugiados e pintou o acesso ao edifício onde eles moravam.
Já na França, em Marselha, pintou um carro da equipe patrocinada pela grife Eskis que vai disputar o campeonato europeu de drift e, em La Rochelle, customizou bonés e camisetas no estande da mesma marca instalado no Franco Folies, maior festival de música do país.
– Estava ao lado de grafiteiros que acompanho desde que eu era pequeno. É como estar jogando com o Neymar – conta o artista de 30 anos, que grafita há mais de 15.
Ainda na França, uma pintura em Paris marcou seu protesto em relação à morte da onça pintada Juma após participar do revezamento da Tocha Olímpica no Brasil. Na Dinamarca, produziu uma arte intitulada Save The World para uma série limitada de 30 unidades para uma galeria em Copenhague.
– É para representar toda a selva que vem sendo destruída no mundo e a falta de cuidado com a fauna e a flora – lembra.
O tour seguiu por Londres, onde ele decorou uma loja de relógios da G-Shock e pintou um barco nos canais de Hakney Wick.
– O grafite está saindo das áreas urbanas e chegando a lugares pouco prováveis antigamente, como, por exemplo, um barco.
Para completar, Lopes também participou das edições da Itália (Milão) e da Alemanha (Wiesbaden) do maior festival de grafite do mundo. Na opinião dele, hoje em dia as pessoas estão mais entregues às artes, e o grafite está se inserindo nesse contexto. Para o artista, cada vez mais, o grafite é uma arte reconhecida e que já não existe mais o preconceito no passado, muito em razão da polêmica em relação às pichações:
– Pichação é uma arte do vandalismo. O grafite busca colorir, decorar. Cada uma tem a sua função.
Santa Ceia
Das 100 prints da Última Ceia que produziu, Lopes ainda possui cinco disponíveis para venda, ao custo de R$ 100 cada. Interessados podem entrar em contato com o artista pelo (54) 8135.2253.