A natureza como material dramatúrgico e coreográfico são referência para o espetáculo Yi Ocre, que será apresentado domingo, às 20h, no Teatro do Sesc. A montagem do grupo amazonense Corpo de Arte Contemporânea explora sensorialidades, dialoga com diferentes procedimentos artísticos para fazer da dança contemporânea um suporte de questionamentos, experiências, provocações ao pensamento.
Há três anos em cena, circulando pelo Brasil graças ao Prêmio Klauss Vianna, pelo qual esteve em 10 cidades da Amazônia Legal, e agora com visita a 30 cidades no Circuito Nacional Palco Giratório, do Sesc, a montagem parte de experiências e pesquisas realizadas em meio à natureza da Amazônia, nas cidades de Santarém e Manaus.
Mergulhados em rios, cobertos pela argila e barro, entre sons e gritos dos bichos da floresta, os intérpretes descobriram questões à cena. O chão da terra é o universo que confronta materialidade e impermanência, química e matemática, finitude e transcendência.
Assim, essas questões são evidenciadas também no nome do trabalho “yi” vem da tribo indígena Saterê Mawé, faz referência à terra mas, ao mesmo tempo, é o som e sopro ancorado ao princípio do universo, à poeira da criação, e “ocre” é a cor do barro, do tom dos solos argilosos daquela região, resultante da oxidação. Sopro do tempo, química da vida, distensão, memória em diferentes matérias movem, portanto, esta dança.
– A poética do corpo é também pensada na visualidade da cena. As inquietações sobre a relação do homem com o ambiente e com a arte, o que somos e o que podemos fazer disso são questões do trabalho – diz um dos criadores da montagem, Odacy Oliveira.
Oliveira está em cena com Alan Panteón. Eles assinam a pesquisa de movimentos e a concepção do espetáculo, que não se fecha apenas ao formato dança, mas inclui recursos do teatro, das artes plásticas, da videodança e da música.
Argila no cenário e também colada aos corpos nus, areia que cai sobre os intérpretes, imagens projetadas, iluminação e música que explora sons da floresta e dos corpos em cena, com reverberações mixadas ao vivo por Marcos Tubarão, ampliam as possibilidades de fruição do público.
– Pela visualidade e a sensorialidade, o trabalho causa estranhamento no público – explica o intérprete.
Essa mobilização e inquietação talvez sejam a mesma do grupo, cuja determinação é misturar recursos para construir um trabalho com possibilidade de alcance e diálogo a partir de uma obra pontuada por dois círculos com dois metros de diâmetro cada, onde o primitivo e tribal regurgita inquietações contemporâneas.
– Gostamos da ideia de instalação coreográfica. Não há barreiras ou preconceitos de linguagem. O hibridismo é também uma forma de fazer arte – destaca Oliveira.
Natureza artística
Espetáculo "Yi Ocre" fala da relação entre homem e natureza com dança
Montagem de grupo amazonense estará domingo, às 20, no Sesc caxiense
Carlinhos Santos
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