Entre 1875 e 1910, Caxias – em suas versões colônia, vila, sede e município – concentrou histórias, episódios e personagens capazes de, mais de um século depois, despertarem um misto de curiosidade e nostalgia sobre os primórdios da cidade. Um recorte pra lá de saboroso desse período integra o livro Ecos do Passado, do autor jornalista, escritor e cronista do Pioneiro Marcos Fernando Kirst. O lançamento ocorre neste sábado, a partir das 10h, no Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
A obra compila 18 textos publicados originalmente entre maio de 2012 e novembro de 2013 na Revista Acontece Sul. A partir de um enfoque não-acadêmico, Kirst conduz o leitor a conhecer personas como o pioneiro Félix Laner e a desbravadora Ana Rech, bem como ajuda a entender os primeiros tempos de Caxias, as famílias de imigrantes, o cotidiano, a chegada do trem, as batalhas iniciais, as pioneiras atividades do comércio, a agricultura e a influência religiosa.
Falando em religião, entre tantos episódios um chama atenção pelo caráter insólito: a armadilha preparada por um grupo de carbonários para um padre com problemas de alcoolismo, em 1877 (trecho abaixo). A história, inclusive, foi encenada décadas depois, em 1908, ganhando um raro registro do fotógrafo Domingos Mancuso.
O dia em que Caxias virou pérola
– São os ecos do passado que trazem os elementos que serão cruciais para entender o presente e construir o futuro – resume Kirst, integrante da cadeira 11 da Academia Caxiense de Letras, patrono da Feira do Livro 2010 e autor, entre outras obras, da ficção A Sombra de Clara, ganhadora dos prêmios Açorianos de Criação Literária em 2014 e Vivita Cartier em 2016.
O lançamento pega carona na semana do aniversário de 126 anos da emancipação política de Caxias (1890) e também dialoga com a elevação de Caxias à condição de cidade, em 1º de junho de 1910, com a chegada do trem. Ou como bem explicita o título da crônica derradeira: Uma Era de Maravilhas...
Busto de Dante Alighieri: um símbolo da Praça desde 1914
Trecho do texto Padres, Maçons e Carbonários se engalfinham (páginas 149 e 150)
"Os carbonários caxienses foram responsáveis pelos maus bocados por que passou, por exemplo, o primeiro capelão colonial vindo a Caxias, o padre Antonio Passagi, que chegou na região em 19 de maio de 1877, após ter sido nomeado pelo Governo Imperial em 6 de fevereiro. Naqueles primórdios da cidade, o religioso celebrava as missas em uma pequena cabana construída com taquaras, junto ao antigo cemitério, localizado na Rua Bento Gonçalves. No entanto, perdeu a jurisdição sete meses após sua chegada, devido a problemas originados por seu alcoolismo. Insatisfeitos com a atuação do religioso, alguns carbonários prepararam-lhe uma armadilha, que foi a gota d´água para que a igreja o suspendesse de suas funções. Após embebedarem o padre em uma bodega, induziram-no a celebrar o casamento de dois homens, um deles vestido de mulher, o que Passagi não percebeu. A trama foi descoberta, e o bispo destituiu o padre de suas funções. O clérigo, no entanto, continuou durante um bom tempo ministrando os sacramentos, que passaram a ser registrados como “celebrado pelo padre suspenso Antonio Passagi”. Vários casamentos e batizados realizados por ele foram depois considerados inválidos nos registros eclesiásticos."
Olhar histórico
Marcos Fernando Kirst é autor de outros livros de resgate histórico. Entre eles, “Serra Gaúcha: O Passado Presente”, “Casa da Cultura: 30 Anos Irradiando Arte”, “Geremia: Um Olhar de Pai para Filho” e “Miseri Coloni: 30 Anos de Palco”.
PROGRAME-SE
O que: lançamento do livro Ecos do Passado, de Marcos Fernando Kirst
Quando: neste sábado (25), às 10h
Onde: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami ( Av. Júlio de Castilhos, 318, bairro Nossa Senhora de Lourdes - fones 3901.1318 e 3218.6114)
Quanto: R$ 30, à venda no local. Aprovado pelo Financiarte, o livro tem a apresentação assinada pela historiadora Loraine Slomp Giron, prefácio do psicólogo Dornelis Benato e posfácio do curador fotográfico Rodrigo Lopes. Traz um apêndice com todos os intendentes e prefeitos de Caxias do sul, desde 1880 até o momento.