No livro A Ciranda das Mulheres Sábias (2007), a psicanalista e poetisa Clarissa Pinkola Estés propõe uma conversa sobre "assuntos que importam de verdade". A publicação, e esses tais assuntos relevantes à alma de todos nós, serviram de inspiração para a atriz Aline Tanaã Tavares na concepção do espetáculo Khaleh, que estreia neste fim de semana em Caxias.
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– Esse espetáculo nasceu da vontade de explorar a temática da sabedoria humana – resume Aline.
Mas, se no livro a figura feminina é como um elo a quase todas as histórias, Aline e a diretora Carolina Garcia Marques decidiram que Khaleh deveria ser ainda mais universal. O próprio nome da peça é uma palavra iraniana que significa intimidade familiar especial e carinhosa, ou afinidade psíquica com outra alma – temas abstratos, porém, facilmente conectáveis.
– A dramaturgia do espetáculo foi construída à parte do livro. Falamos de acolhida, amorosidade, do universo do encontro. Queremos que as pessoas façam conexões, que possam ter essa sensação de aconchego, esse carinho na alma – diz a atriz e idealizadora de Khaleh, projeto vencedor do Prêmio Anual de Incentivo à Montagem Teatral da Secretaria Municipal de Caxias em 2015.
Para criar uma atmosfera o mais intimista possível, o cenário foi pensado como uma tenda, onde Aline recebe os espectadores como se fossem amigos com quem ela dividirá memórias e afetividades. Outros elementos muito importantes do espetáculo são as traquitanas cheias de histórias que circundam o cenário. A manipulação desses objetos em um jogo de sombras e luzes garante uma história viva, em construção junto com o público.
– A gente chama história dentro da história, como se cada objeto abrisse um espaço diferente. São histórias que vão sendo modeladas, é um espetáculo muito sensorial, mas não é uma participação de trazer o público para a cena, é mais como olhar no olho, estar perto, sentir os mesmos cheiros – comenta Aline, que tem a ajuda de André Susin na atuação interna da tenda.
Durante a concepção de Khaleh, a equipe participou de pelo menos três residências artísticas (de aproximadamente uma semana) num sítio localizado no aconchegante município de Morro Reuter. Nesses pequenos retiros da rotina atribulada em Caxias, as cerca de 10 pessoas compartilharam muitas das sensações e das histórias que estão no espetáculo.
– Foi um espaço de se dedicar puramente à tranquilidade e ao aprofundamento – comenta a atriz.
Não é simples decodificar Khaleh como uma trama com início, meio e fim, ou como um monólogo sobre um tema específico. É mais fácil tentar explicá-lo como um mergulho nas sutilezas da alma que ligam todos espectadores numa única e densa teia de sensações. Aline, que vive o singular momento da primeira maternidade – é mãe de um menino de um ano e três meses – e tem vasta experiência no teatro clown, revela este novo trabalho como prova de um crescimento intenso e desafiador. Talvez o espectador também sinta algo parecido ao sair do teatro:
– Eu me joguei nesse trabalho, às vezes precisamos de coragem para dar o passo e depois saber que o chão vai vir. Brinco que é preciso abandonar a pessoa que éramos e nos abrirmos para o novo. O espetáculo também fala disso, dos papéis que dançam na nossa vida.
PROGRAME-SE
:: O que: espetáculo Khaleh
:: Quando: sábado e domingo, com apresentações às 18h e 20h
:: Onde: Moinho da Cascata, sede do Grupo Ueba (Luiz Covolan, 2.820) :: Quanto: R$ 25, é necessário reservar pelo e-mail khalehteatro@gmail.com ou pelo telefone (54) 9996.1244