O Dia das Mães passou, mas ainda está em tempo de conferir o provavelmente mais delicado relato cinematográfico da temporada sobre a relação entre uma mãe e seu filho. Em De Amor e Trevas, que estreia nesta quinta na Sala de Cinema Ulysses Geremia, Natalie Portman investiga sua própria origem judaica (ela nasceu em Jerusalém) ao narrar a história do livro homônimo que foi best-seller no país. Trata-se do primeiro longa dirigido pela atriz, e um registro tocante sobre a construção do imaginário infantil num ambiente hostil.
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O roteiro mostra a infância de Amos Oz (Amir Tessler), autor do livro biográfico lançado em 2004. Enquanto enfrenta o perigo iminente numa Jerusalém ainda devastada pela Segunda Guerra, o menino se vê entre as alegrias e os demônios que habitam sua própria casa. Cabe ao personagem também a narração em off da história, recurso comum em filmes baseados em livros, mas aqui utilizado sem exageros, priorizando textos que realmente acrescentam ao que se vê em cena. Natalie Portman vive a mãe de Amos, Fania, personagem fundamental na concepção da personalidade do garoto. É da mãe que brota o talento para sonhar em meio ao caos, herança das mais preciosas para Amos.
O longa é todo falado em hebraico – escolha corajosa da diretora – e se passa na segunda metade da década de 1940, período de transição na criação do Estado de Israel. Apesar de render um interessante pano de fundo, o contexto político não é o mais importante nesta história. Na primeira metade do filme, a diretora constrói um cenário quase lúdico para apresentar os personagens mais importantes da vida de Amos: o pai (Gilad Kahana) apaixonado pelas palavras e a mãe entusiasta das histórias e da imaginação. O espectador vai acompanhando esse balé do aprendizado como se fosse também aquele menino de 10 anos a se maravilhar com a origem das palavras descritas pelo pai, ou a escutar as românticas lições da mãe ("é melhor ser sensível do que ser honesto"). Neste aspecto, o filme também faz ode à importante presença dos livros na infância.
Mesmo quando está mostrando momentos mais harmoniosos entre a família, De Amor e Trevas nunca perde sua característica estética melancólica, com uma paleta de cores super fria que evidencia os rostos pálidos dos personagens. Na segunda metade do longa, quando já conhecemos o amor do título, são as trevas que tomam espaço no longa. O próprio Amos diz que "a guerra se infiltrou na família", como uma maneira de refletir a terrível depressão que acomete sua mãe. A oportunidade de acompanhar a história dessa mulher através da percepção do filho é um dos trunfos do longa, que explora alguns enquadramentos inusitados para simular esse olhar infantil.
As razões que tiram a alegria de Fania não ficam exatamente claras, justamente por se tratar de um relato muito íntimo de uma criança que também tinha dificuldade para entender o que estava se passando na mente da mãe. Porém, o filme busca maneiras poéticas de mostrar como a figura dos pais habita a alma dos filhos para sempre. Assim, fica difícil não se conectar com a história.
PROGRAME-SE
:: O que: drama De Amor e Trevas, de e com Natalie Portman
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia (Luiz Antunes, 312)
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até o dia 29, com sessões nas quintas e sextas, às 19h30min, e nos sábados e domingos, às 20h
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos)
:: Duração: 98min
:: Classificação: 12 anos
Veja o trailer: