Quando lançaram Tropicália 2, em 1993, em Baião Atemporal, Gil e Caetano cantaram que "no último pau-de-arara de Irará, um da família Santana viajará."
Os versos reverenciam Antônio José Santana Martins, que sairia do sertão baiano para ser Tom Zé no mundo. Depois dos acordes inaugurais pela música erudita, ele juntou-se a uma desvairada trupe da paulicéia em que concretismo e verso livre, antropofagismo e deglutição formatariam, em vinil, em 1968, Tropicália ou Panis et Circensis.
Agora na cidade grande, cantava São São Paulo Meu Amor olhando para as aglomeradas solidões urbanas. Fez também o ousado Todos os Olhos, onde o cujo dava uma curva estética na música brasileira que ainda voltaria muitas vezes a revisitá-lo mesmo que se mantivesse longe dos holofotes.
Foi assim que, no fim dos anos 1980, David Byrne fez a taba se lembrar de seu totem. Tom Zé reapareceu e afirmou à cena sua tão potente obra alimentada pelo olhar inquieto de um erê misturado à sabedoria cabocla irreverente e mutante.
Eis a mestiçagem que fecha o Aldeia Sesc, neste domingo, às 19h, no Largo da Estação, em Caxias. Eis o tom de tão sábio Zé. Eis, abaixo, três tópicos da entrevista veiculada na edição impressa do Pioneiro.
Sobre o show:
O repertório constará principalmente de canções do disco recente, Vira Lata na Via Láctea, que tem Mamon, falando sobre a idolatria do dinheiro, praticada em larga escala atualmente, e GeraçãoY, da moçada que está chegando ao proscênio agora e a quem caberá a responsabilidade pelo país futuramente. O público, quando sabe que haverá show, costuma colaborar com o repertório, sugerindo músicas que quer ouvir, também. É a bagagem que irá a Caxias do Sul.
Sobre o Brasil:
Um país que precisa conhecer melhor a si mesmo.
Sobre funk e hip hop:
Já falei numa entrevista sobre a ousadia musical de um refrão de funk, "Tô Ficando Atoladinha". A expressão do pessoal do funk, do rap, do hip hop, está ao lado da gente. É o samba deles.