Tornado público pela Marcha Mundial das Mulheres em audiência pública na Câmara de Vereadores há duas semanas, o fato de o patrono da Feira do Livro de Caxias, Uili Bergamin, estar respondendo a processo de violência contra a mulher trouxe polêmica à 31ª edição do encontro literário. O patrono foi condenado em primeira instância no Juizado da Violência Doméstica de Caxias, mas entrou com recurso e aguarda apreciação do Tribunal de Justiça do Estado.
- Se existe a denúncia, nós acreditamos que houve agressão e ela é real. Estamos acompanhando esse caso há tempos e não é nada pessoal contra ele. Mas, no caso, o patrono é um símbolo (na luta contra a violência), num ambiente de referência intelectual - defende Suelen dos Santos, integrantes da Marcha.
O patrono se diz surpreso e abismado com o surgimento do assunto.
- Isso é um linchamento moral. O processo não está concluso e sou inocente até que se prove o contrário - afirma Bergamin.
Para ele, sua vida pessoal não diz respeito a ninguém.
- O que está em jogo é o escritor e acho que ninguém pode dizer que não tenho currículo para ser patrono, porque tenho 14 livros publicados, trabalho com oficinas de literatura e formação de leitores há 10 anos e é isso que deveria valer. Tenho currículo, não foi um erro de ninguém (me escolher) - observa o escritor, ex-patrono das feiras de Cotiporã, Veranópolis e Flores da Cunha.
A polêmica também foi tratada num encontro da Academia Caxiense de Letras (ACL) há duas semanas, entidade da qual Bergamin também faz parte. No diálogo, foi sugerida a possibilidade de Bergamin não integrar nova chapa da diretoria da instituição, situação que desagradou a alguns integrantes. O presidente da ACL, Leandro Angonese, prefere não comentar a polêmica "para evitar mal-entendidos".
- A ACL não julga as pessoas, acolhe os escritores que se destacam, sem levar em conta a vida pessoal de cada um e sim o que cada um produz. Não temos que nos posicionar. Além disso, pela lei, (o processo) não está concluído - diz.
Antes da declaração de Suelen dos Santos, da Marcha Mundial das Mulheres, o professor universitário Ramon Tisott havia solicitado informações à Secretaria Municipal da Cultura sobre a escolha de Bergamin, tendo oito perguntas respondidas pela titular da pasta, Rúbia Frizzo. Um dos questionamentos era sobre os demais patronáveis - Alessandra Rech, Heloisa Feltes, Heloisa Coin Bacichette, Lisana Bertussi, Maria Helena Catan, Magda Torresini, Neiris Paviani e Rejane Romani Rech. A escolha de Bergamin, segundo Rubia, foi unânime entre os representantes que o elegeram - um da Secretaria da Cultura, um do Departamento do Livro e da Leitura, um da Academia Caxiense de Letras, um da Associação Amigos da Casa de Cultura, um da Secretaria da Educação e um do Conselho Municipal de Cultura. A Associação dos Livreiros Caxienses, correalizadora da Feira, não participou da votação por vontade própria.
- A Feira do Livro está envolta em polêmicas há tempos. No ano passado, meteram a lenha porque o patrono era um padre (Jaime Bettega), no anterior, porque era um cartunista e humorista (Carlos Henrique Iotti). Caxias tem 200 escritores e todos gostariam de ser patronos, mas vai chegar a vez deles - completa Bergamin.
Polêmica
Patrono da Feira do Livro de Caxias tem nome associado à violência contra a mulher
Uili Bergamin foi criticado pela Marcha das Mulheres em audiência na Câmara de Vereadores
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