Poeta, autor de numerosas histórias de terror e criador do gênero policial, o norte-americano Edgar Allan Poe é um nome incontestável na galeria de grandes escritores. Mesmo assim, foi na pobreza que ele viveu seus 40 anos (nasceu em 1809 e morreu em 1849), uma vez que tentava viver da sua escrita, algo incomum na época. A morte precoce de Poe é, até hoje, cercada de dúvidas, mesmo passado mais de um século e meio. E foi essa trajetória de genealidade, miséria e mistérios que o escritor norueguês Nikolaj Frobenius utilizou para criar o romance Vou lhe Mostrar o Medo (Geração Editorial, 296 páginas, R$ 39,90), em que Poe é o protagonista.
Na trama, encontramos o então jovem escritor angustiado pela falta de dinheiro e pela doença de sua esposa. Não bastasse isso, ele ainda é perseguido pelo crítico literário Rufus Griswold - outra figura retirada da vida real, e que foi mesmo antagonista de Poe. A própria troca de acusações e respostas entre os dois, que aparece no livro, é baseada no que ocorreu de verdade. A ficção em si entra com a inclusão na trama de um terceiro e sinistro personagem: um assassino que comete seus crimes inspirado nos textos de Edgar Allan Poe.
Se alguém aí lembrou de um filme que conta história semelhante, pode ser mera coincidência, ou não: na orelha do livro, diz-se que ele foi plagiado para o cinema. Polêmicas à parte, é curioso acompanhar a tensão psicológica crescente do já aflito escritor, que ao mesmo tempo em que tenta ser conhecido por sua produção literária é criticado publicamente e chega a ser suspeito dos crimes.
Diferentemente do filme, entretanto, no livro Poe logo sabe quem é que está matando da mesma forma que nos seus contos. Isso porque a resposta está no seu passado, em algo que aconteceu na sua adolescência, ou melhor, em alguém a quem ele era ligado então. A trama acaba tendo menos suspense e ação do que eu tinha imaginado quando comecei a ler, mas mesmo assim é criativa e interessante.
Confesso que, ainda durante a leitura, vi-me compelida a pesquisar sobre Griswold, o próprio Poe, sua vida amorosa e outros aspectos que aparecem na história. Isso porque, se as criações de Edgar Allan Poe são fascinantes (seja Os Crimes da Rua Morgue, A Máscara da Morte Escarlate, O Coração Delator, O Relato de Arthur Gordon Pym, O Corvo ou qualquer outra), sua vida também foi - triste, é verdade, mas mesmo assim fascinante.
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Curtas:
* Vale lembrar que Vou lhe Mostrar o Medo não é a única história que tem Poe como personagem. Outro bom livro com essa característica é Em Uma Cidade Estranha (Record, 364 páginas, R$ 45), de Laura Lippman, inspirado no misterioso personagem que, a cada aniversário do escritor, em 19 de janeiro, deixa rosas e conhaque em seu túmulo, na cidade de Baltimore.
* Depois de a inglesa Sophie Hannah lançar um livro tendo como personagem Hercule Poirot, o célebre detetive criado pela inigualável Rainha do Crime Agatha Christie (Os Crimes do Monograma, Nova Fronteira, 288 páginas, 29,90 reais) - inclusive com "Agatha Christie" escrito em letras garrafais na capa -, agora foi a vez de a trilogia Millenium, do falecido escritor sueco Stieg Larsson, ganhar continuação. A Garota na Teia de Aranha (Companhia Das Letras, 560 páginas, R$ 44,90), escrito pelo sueco David Lagercrantz, retoma os personagens Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander, que apareceram pela primeira vez há dez anos, no livro Os Homens que Não Amavam as Mulheres.
Dica de livro
Maristela Deves: Poe como personagem
Criador do gênero policial é o protagonista do romance "Vou lhe Mostrar o Medo"
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