Todo dia Rachel, a protagonista de A Garota no Trem (Record, 378 páginas, R$ 35), livro de estreia de Paula Hawkins, pega o trem das 8h04min para Londres. E, todo dia, quando o trem para alguns instantes num sinal, ela avista uma casa e o casal perfeito que ali vive. Ao menos, eles parecem perfeitos: bonitos, carinhosos um com o outro, alegres e despreocupados... Até que, numa sexta-feira, ela vê uma cena que deixa chocada - a mulher beijando outro homem. Naquele final de semana, essa mulher, Megan, desaparece, e, ao sabe disso, Rachel se sente na obrigação de contar o que viu.
O problema é que a polícia não acredita muito em Rachel. Nem ninguém, aliás, pois ela é considerada uma testemunha "pouco confiável". Isso porque, como o leitor vai descobrir já nas primeiras páginas, a "garota no trem" tem um leve problema com bebida. Que nem é tão leve, na verdade.
O vício já estragou seu casamento e a vida quase perfeita que ela própria tinha, morando em uma casinha bem próxima daquela que agora ela costuma observar. Seu marido a trocou por outra, e ela precisa viver de favor com uma amiga (que quase não aguenta mais suas bebedeiras). Não bastasse isso, Rachel perdeu seu emprego em Londres há meses, e apenas segue indo diariamente naquele trem para que ninguém desconfie que está desempregada.
Enquanto tenta fazer primeiro a polícia e depois o marido de Megan acreditarem nela, Rachel enfrenta também o ciúme que sente do ex-marido, e os temores da nova mulher deste, Anna, de que ela faça algum mal à filha do casal. Sim, pois certo dia no passado Rachel invadiu sua antiga casa e saiu com a criança nos braços para perto da linha do trem...
Os fatos são narrados em primeira pessoa, em relatos datados ("dia tal, manhã"; "dia tal, noite"), quase sempre do ponto de vista de Rachel. Alguns episódios, entretanto, são narrados do ponto de vista de Megan, voltando no tempo até cerca de um ano antes do seu desaparecimento, e outros acontecimentos são ainda relatados por Anna, a nova mulher de Tom, o ex de Rachel. A dubiedade da trama é ampliada com as admissões da própria Rachel de que já fez coisas terríveis em suas bebedeiras, como atacar Tom com um taco de golfe, embora não se lembre de nada depois.
A dica para quem for ler essa história é prestar atenção aos detalhes, a tudo que for dito, pois tudo tem isso vai ajudar a encaixar as peças no final. E, claro, o livro tem também várias pistas falsas. Quer dizer, não são tão falsas assim, porém podem conduzir o leitor para uma conclusão errada, se não se levar o todo em conta.
Enfim, A Garota no Trem é daqueles livros que se quer ler de uma sentada até chegar ao final. Como um bom thriller deve ser.
Dica de livro
Maristela Deves: "A Garota no Trem" é um thriller de primeira
Uma cena vista de passagem, um desaparecimento e uma testemunha pouco confiável são os ingredientes do livro de Paula Hawkins
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