Confesso: eu ainda não tinha lido nada do escritor argentino Adolfo Bioy Casares, embora ele estivesse naquela famosa lista de "autores que tenho de ler". Na última Feira do Livro de Caxias do Sul, encontrei uma edição antiga, em capa dura e baratíssima de A Máquina Fantástica, e comprei sem pensar duas vezes. Como foram vários os livros comprados na ocasião, e outros tantos estavam na fila, a leitura foi sendo adiada e só ocorreu recentemente. Valeu a pena, e me censurei por demorar tanto.
Em primeiro lugar, vale dizer que essa obra, primeira publicada por Bioy Casares, ainda em 1940, ganhou no Brasil dois títulos diferentes: A Máquina Fantástica é um deles, e o outro, A Invenção de Morel, que remete mais ao título original em espanhol, La Invención de Morel. Assim, não vou listar editoras e preços por aqui, basta dizer que há várias opções. Vamos, pois, à história, para quem ainda não a conhece.
No começo da trama, encontramos um homem apavorado. Fugitivo político, ele se isolara em uma ilha supostamente deserta, com algumas estranhas construções abandonadas. Certo dia, porém, ele escuta música, e, como num passe de mágica, vê por ali diversas pessoas, divertindo-se como se estivessem em um resort. Sem saber de onde eles vieram e temendo ser encontrado, ele se esconde na mata, observando os intrusos de longe.
Embora inicialmente se irrite por terem usurpado seu abrigo e sua paz, ele aos poucos vai se interessando por uma mulher voluptuosa com um lenço vermelho e jeito de cigana que, todo fim de tarde, senta-se em um penhasco a observar o pôr do sol. Escreve sobre ela em seu diário, e fica enciumado quando a vê acompanhada por um dos estranhos recém-chegados. Um dia resolver fazer-lhe uma surpresa, e a desenha com flores no local em que ela costuma sentar-se. Para sua tristeza, ela ignora a homenagem. Noutra feita, ele cria enfim coragem de declarar-se, ajoelha-se diante dela e começa a falar de seu amor, mas ela simplesmente se levanta e sai, como se ele não estivesse ali.
É então que o narrador sem nome (não, ele não é Morel) resolve ficar ainda mais audacioso e entrar nas construções, que agora já não parecem tão abandonadas. Situações cada vez mais estranhas se sucedem, algumas desesperadoras, e é somente quando escuta uma confissão do tal Morel é que começa a compreender o que está acontecendo. Quando o leitor pensa que cessaram as surpresas, vem o final, também muito bom...
É um livro curto (a versão que li tem 143 páginas), e que vale a pena duplamente: pela leitura de um grande nome da literatura fantástica latino-americana e pela ótima história em si.
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* Grey: os fãs da trilogia "porno soft" Cinquenta Tons de Cinza estão em polvorosa pelo anúncio do lançamento, dia 18, de Grey, novo livro da britânica E.L. James. Segundo post da escritora no Facebook (que recebeu mais de 150 mil curtidas e 105 mil compartilhamentos em 24 horas, entre segunda e terça de manhã), a obra reconta a história na visão do protagonista masculino, Christian Grey.
* Green: enquanto isso, entre o público leitor adolescente a notícia da semana é que o escritor John Green, autor de A Culpa é das Estrelas, virá ao Brasil no mês que vem para divulgar o filme Cidades de Papel, baseado em outro de seus livros. A estreia nos cinemas é 9 de julho.
Literatura fantástica
Maristela Deves: a "Máquina Fantástica" de Bioy Casares
Clássico do escritor argentino também é conhecido como "A Invenção de Morel"
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