Era um intervalo qualquer de uma terça-feira de abril, mas a presença de uma equipe do programa Profissão Repórter no pátio da Escola Estadual Santa Catarina despertou uma nova curiosidade em dois alunos do 3º ano do ensino médio. A reportagem falava sobre vida de modelo, e os jornalistas acompanhavam o dia do scouter Edson Ferreira.
O olheiro contratado da Ford Models abordou Gabriel Tonet e Daniel Reginato Turcatel, ambos de 17 anos, deixou o cartão e não recebeu nenhuma resposta positiva no dia.
- Não pensei e nem estou muito interessado. Prefiro continuar como estou, trabalho com meu pai no interior e eu gosto - disse Gabriel à repórter, respondendo com seriedade à pergunta 'já pensou em ser modelo?'.
- Me pegou de surpresa agora, mas eu nunca pensei em ser modelo, seria uma ideia nova - afirmou Daniel, que é seminarista.
Modelo ou padre? emendou a jornalista.
- Ou modelo, ou padre - respondeu.
Dois meses se passaram desde a gravação do programa exibido na semana passada. Antes mesmo de conquistar uma certa popularidade por causa da aparição na tevê, Gabriel já tinha feito o contrário do que disse à equipe de reportagem - ele decidiu aceitar a proposta de Ferreira e tentar ser modelo.
Nesse período, conta ter ouvido algumas críticas das pessoas, dizendo a ele que havia perdido a chance de seguir numa carreira diferente. Mas, embora parecesse, ele não desistiu.
O guri de 1m90cm e olhos muito azuis vive na Linha 60, numa área bucólica, e ajuda a família no cultivo de plantas e frutas. Começou a trabalhar aos 11 anos e, atualmente, é responsável pelo cuidado com as mudas de flores de jardim.
- Nunca tinha pensado nisso e fui pego de surpresa. Quando cheguei em casa, fiquei brincando sobre isso com a minha mãe, até que resolvi ligar para o Edson. Sou muito agradecido a ele - conta Gabriel.
Na companhia da mãe, encontrou-se com Ferreira no shopping Iguatemi e, logo depois, olheiro e aspirante a modelo foram duas vezes a um agência em Porto Alegre. Gabriel fez um book, recebeu algumas recomendações para adequar-se ao padrão exigido - como definir mais o peitoral -, participou de um curso com noções da profissão e está na fase de acompanhamento.
Esse período consiste na preparação, sob a supervisão de Ferreira, para que o modelo esteja pronto para começar a trabalhar.
- A carreira de modelo é muito diferente de como eu achava que era. Imaginei que fosse um serviço fácil, mas é bem puxado. Isso que estou na fase fácil ainda - observa Gabriel.
Já o dilema de Daniel não evoluiu desde a entrevista para o Profissão Repórter. Natural de Paraí, ele vive no Seminário Diocesano Nossa Senhora Aparecida desde o 1º ano do ensino médio, quando tinha 15 anos, e no final de 2015, com o término do colégio, precisa decidir se irá ser padre ou não. Caso não opte pelo sacerdócio, não descarta a possibilidade de ingressar no mundo da moda. Com 1m93cm, ele chama a atenção por onde passa.
- Edson ficou com meu contato e quis conversar comigo. Expliquei a ele que o seminário é importante para mim, que preciso esperar e ver se é o que quero. Até fiquei interessado pela carreira de modelo, nunca tive nenhuma experiência dessas - relata ele, que é primo do padre Ezequiel Dal Pozzo.
Na escola, as pessoas passaram a brincar com a ideia 'modelo ou padre?'. Embora Daniel tenha achado estranho se ver na tevê, ficou sabendo que a exibição da reportagem provocou uma comoção entre familiares e amigos em Paraí.
- Acho que dá até um tipo de orgulho para os meus pais - completa.
Apesar das incertezas da profissão - dele e dos modelos - Ferreira ficou satisfeito com a incursão ao Santa Catarina:
- Tive sorte, porque encontrei dois meninos interessantes no mesmo dia.
Vida de modelo
Abordados por olheiro no 'Profissão Repórter' não descartam a carreira
Ambos são estudantes do 3º ano da Escola Estadual Santa Catarina, em Caxias do Sul
Tríssia Ordovás Sartori
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