Talvez tenha sido em Villa-Lobos, na primeira metade do século 20, que o erudito cruzou com o popular e a música brasileira tenha tomado a envergadura lhe deu reconhecimento mundial. Mas houve João Pernambuco antes que, com seu violão, fez o choro soar universal. E, se Baden Powell reinventou nossas origens, Egberto Gismonti, já na contemporaneidade, reorganiza essa herança sonora experimentando e afirmando nossa lírica mestiça. Tudo isso é referência do disco O Clássico Violão Popular Brasileiro, ponto de partida do repertório que o Duo Assad apresenta nesta segunda-feira, às 20h, no Teatro Pedro Parenti, na Casa da Cultura, em Caxias do Sul.
Show e disco são a gênese e a inventividade da música brasileira, revisitada pela dupla cuja trajetória é aplaudida nos teatros do mundo.
- Acho importante falar do passado. Entendendo o passado, podemos realmente ter uma visão melhor do que somos hoje. Acho que apresentar as músicas do passado tais como elas foram concebidas não reflete a tradição brasileira de se criar sempre sobre os vultos do passado. Eu acho que aqui no Brasil esse culto aos vultos do passado é bem mais forte do que na maioria dos outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, poucos jovens sabem quem foi Louis Armstrong ou Duke Ellington. Já aqui no Brasil, os nomes de Pixinguinha ou de Ary Barroso ainda são bem lembrados - analisa Sergio Assad, olhando para a história do violão no ambiente da MPB:
- Os nomes ligados ao violão são nomes menos importantes dentro da linha evolutiva da música brasileira, mas são nomes de bastante peso e devem ser lembrados. Os grandes valores do violão brasileiro moderno não seriam os mesmos sem a presença anterior dos nomes que estão nesse nosso disco.
Patrocinada pela Petrobras, a turnê festeja os 50 anos de carreira da dupla formada pelos irmãos Sergio e Odair Assad que, segundo o The Washington Post, são "o melhor duo de violões que já existiu, talvez em toda a história". Morando nos Estados Unidos e na Bélgica desde os anos 1980, os irmãos Sergio e Odair já dividiram palco com Yo Yo Ma, Paquito D'Rivera e Nadja Sonnenberg. Têm mais de 15 CDs lançados e conquistaram o Grammy algumas vezes, sendo nomeados para outras tantas. Fama mundial que não diminui a vontade de se comunicar com novas plateias, feito a de Caxias, que terá o privilégio de assisti-los pela primeira vez.
- Nós encaramos qualquer espetáculo que fazemos com a mesma seriedade. Tocamos para o público. Gostamos muito de estabelecer uma relação legal com a plateia. Acho que essa é a verdadeira missão do músico - argumenta Sérgio.
Entre o erudito e o popular, o programa traz na primeira parte obras representativas do repertório que consagrou o duo internacionalmente. A segunda parte é totalmente dedicada ao novo CD. Confluem, assim, Villa-Lobos, Baden Powell, Piazzola, Garoto, Luiz Bonfá e Dilermando Reis. Tradição dedilhada no violão de dois artistas cuja capacidade de reinvenção da nossa sonoridade reverbera com maestria. Uma opção pela qualidade musical em tempos de certas ondas musicais tão redutivas. Uma determinação estética que afirma uma ética artística.
- É um dever nivelar as coisas por cima e não por baixo. Quem tem esta chance não pode fugir a este compromisso. Acreditamos nisso e nos sentimos privilegiados pelas oportunidades que tivemos e na obrigação de devolver esse benefício - complementa Assad.
Programe-se:
O que: show com o Duo Assad - 50 Anos de Carreira, lançando o disco O Clássico Violão Popular Brasileiro
Quando: segunda-feira, às 20h
Onde: Teatro Pedro Parenti, na Casa da Cultura (Dr. Montaury, 1.333, 54 3221.3697), em Caxias do Sul
Quanto: R$ 50, à venda no 1º andar da Casa da Cultura, das 8h30min às 18h, na bilheteira do teatro, a partir das 18h, e no Hotel Bergson (Dezoito do Forte, 1.818). Idosos e estudantes pagam R$ 25
Ode ao violão
Duo Assad se apresenta nesta segunda-feira em Caxias
Show será às 20h, no Teatro Pedro Parenti, na Casa da Cultura
Carlinhos Santos
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