A noite de sexta começou com um São Pedro um tanto indeciso, ora mandando aquela água para acompanhar os lamentos do blues - e fazendo o público do Mississippi Delta Blues Festival procurar a cobertura mais próxima para se abrigar -, ora cessando o aguario. Depois de mais de uma hora de chove/para/chove/para, o céu limpou e a movimentação de palco em palco ficou mais acessível. Cascalhos, trechos asfaltados e pequenas rampas em madeira ajudaram os caminhantes a driblar as poças e curtir as atrações sem grandes percalços.
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Ainda antes de escurecer totalmente, os mexicanos do Los Mind Lagunas provaram que blues em espanhol pode ser muito divertido. O grupo apresentou ao público, que ainda chegava na Estação Férrea, canções animadas como Perro Negro. Ainda teve muita piada em portunhol e o guitarrista avisando que terminaria o show para dar tempo de ir ao forró (?).
Enquanto isso, o palco Magnólia se firmava como uma das mais doces surpresas da edição sete do festival. A dancinha da diva Tina Turner no telão às costas de Fran Duarte parecia mandar boas vibrações à cantora caxiense, que soltou o vozeirão em duas apresentações cheias de groove - destaque para a matadora Give More Power to the People.
A casinha, da qual Bob Stroger é praticamente dono, virou "sweet home" de outro gringo cheio de simpatia. Robert Bilbo Walker reuniu público expressivo e atencioso em aparições empolgantes. Rolou até descida do palco e solo com a guitarra em uma mão só (tente imaginar isso), exibicionismo completamente bem-vindo e completa prova de vitalidade.
O quarteto Guit4rs for the Blues subiu ao palco principal para mesclar repertório e muitas virtuoses de Netto Rockfeller, Fernando Noronha, Solon Fishbone e Danny Vincent. Um dos momentos marcantes da apresentação foi a homenagem prestada por Solon ao amigo Luciano Leindecker, morto nesta sexta, de câncer.
- Vai véio, vai que tu tá livre - disse o guitarrista, como se falasse com Leindecker, ao introduzir um blues tristonho.
O show ainda teve uma música composta em parceria entre os quatro guitarristas e a promessa de um CD do projeto para breve.
No Magnólia, a inglesa com pinta de cowgirl Bex Marshall desfilou intimidade com a guitarra e com o microfone. Com um timbre entre o rouco e o agudo, ela mostrou porque é chamada de Janis Joplin da Inglaterra ao entoar uma versão cheia de sentimento do clássico Piece of my Heart.
No palco All Aboard, um dos destaques foi a caxiense Delta Jam, que teve dificuldades em acabar o show com tantos pedidos de bis. O mesmo cover da clássica Hoochie Coochie Man, que eles tocaram num dos solicitados bis, foi entoado minutos depois no palco principal, durante apresentação de Lurrie Bell. O guitarrista mostrou um blues menos animado, mas não decepcionou quem esperava para ver seus solos. O problema foi o som, que falhou algumas vezes nas últimas músicas da apresentação.
Enquanto Larry McCray "alugava" a Casinha para tocar umas canções, o palco Magnólia abria espaço para aquele que seria o melhor show da noite. Além da pinta de musa (com coxas à mostra e um leque chiquérrimo para se abanar), a norte-americana Jai Malano arrebatou a plateia com seu vozeirão e simpatia, num desempenho hipnotizante. Jai cantou acompanhada da sensacional Igor Prado Band (o saxofonista chamou quase tanta atenção quanto a vocalista), alinhada ao estilo vintage da moça. O show fez centenas de pessoas dançarem o blues balançado e cheio de groove da americana. As composições próprias, maior parte do repertório, mostraram que é possível empolgar o público, mesmo tocando sons desconhecidas. A cereja do bolo foi o cover de James Brown, com I'll Go Crazy.
Depois disso, coube ao pianista, guitarrista e vocalista Johnny Nicholas apenas manter o ritmo quente da noite. Mesmo subindo ao palco com uma hora de atraso (o que fez a função toda terminar às 2h45min), o show fez o público se manter atento e curtir uma aula de boogie-woogie texano. Performance balançada e para cima, convite perfeito para curtir mais blues no sábado, última noite do festival.
Diva
Jai Malano faz o show mais empolgante da noite de sexta, no MDBF, em Caxias
Palco principal terminou com apresentação balançada de Johnny Nicholas
Siliane Vieira
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