Para o editor da caxiense Belas Letras, Gustavo Guertler, o lugar do escritor contemporâneo é a internet. E é necessário engajar-se ao leitor, ter ele sempre ao seu lado. Ficar recluso, não dar entrevistas, não promover lançamentos e palestras, é jogar contra si próprio. Abaixo, ele comenta o que espera encontrar nos novos autores de literatura brasileira.
Confira a reportagem completa sobre o que os editores querem dos novos autores brasileiros
O que o editor busca no novo autor de literatura brasileira?
Em primeiro lugar, autenticidade. Um conjunto de qualidades que o livro pode ter no nosso entendimento. Um livro que normalmente fuja de tudo o que já vimos em relação a livro. Pode ser um assunto já conhecido, mas tratado de uma maneira diferente, pode ser a ideia de uma estrutura narrativa diferente, ou também um livro que tenha pouco do mesmo assunto para ler. Esse é o que soma mais pontos para ser avaliado. Se o autor se inspirou em Machado de Assis ou na poesia do Drummond, por que o editor iria preferir publicar a cópia e não o original? Queremos autores que não saibam com quem se parecem, mas que saibam de quem eles são diferentes.
É importante que o editor conheça a editora para a qual está mandando o seu original. Qual o perfil da Belas Letras?
A Belas Letras tem em seu núcleo a cultura pop. Dentro disso, temos três temas principais: estilo de vida, entretenimento e esporte. Não vamos publicar um livro sobre regras do futebol, por exemplo, mas podemos publicar algo sobre curiosidades do futebol que as regras não alcancem. É um exemplo. Tudo tem que dialogar com a cultura pop, falar para o leitor que nasceu na era digital. Esse é o nosso público principal. Jovens entre 18 e 35 anos, cuja maioria, cerca de 80%, é formado por mulheres.
Quantos originais chegam à editora por mês?
Não passa um dia sem recebermos algum material. Gira em torno de 100 e 200 por mês. Recebemos impresso, por Facebook, por e-mail...
Faz diferença a forma de envio?
Sim. Os editores não leem os livros que chegam. É humanamente impossível, não há braços e olhos suficientes. Mais importante é mandar um resumo com qualidade. Para a primeira triagem, já resolve. E também um breve currículo, que faça o editor entender quem ele é, o que ele pretende, e do que se trata o livro. Se a proposta despertar interesse, aí sim iremos ler o livro. E mesmo assim, só alguns capítulos. Só vamos ler todo o livro quando estiver decidido que será publicado.
Que dica dá para o jovem autor que ainda não publicou?
O primeiro passo é conhecer como o mercado funciona. Busque informações antes de submeter o material. Isso não é difícil. Visite livrarias, converse com livreiros, visite sites e blogs de autores que já são conhecidos, estude a carreira deles. Só o talento não é suficiente. Escrever não é o mesmo que publicar. Então, ou ele se informa sobre o mercado, ou contrata alguém que faça isso por ele, algum agente literário. O importante é entender que, para entrar no mercado literário, tem que entender como ele funciona. Como qualquer outra carreira.
Como a internet e as redes sociais impactaram o mercado editorial?
O caminho para o amador fica mais difícil. Aquele que ainda acha que a avaliação editorial funciona como era dez anos atrás. Tem caso de autor que publica e avisa: "não vou dar entrevista". Autor que não está na internet, que não tem engajamento com seus leitores, a chance de publicar é zero. Hoje o mercado para autores novos está muito mais favorável do que era anos atrás. Imagina o que era publicar quando não existia internet. Hoje o autor pode publicar o seu primeiro livro tendo dez mil fãs na internet. Trabalha a sua imagem antes mesmo de publicar. Houve muitas discussões sobre a internet ser o fim do livro, mas para mim é o contrário. A internet é onde o livro começa.