Feliz é aquele que mais tem ou quem de menos precisa? Eis uma pretensa questão a ser respondida, que ganha ainda mais interrogações neste mês de dezembro.
O consumo e suas nuances são o tema central do caderno Dialeto, que evoca a espiritualidade para falar da devoção às marcas, ao consumismo.
>> Folheie a edição de dezembro do Dialeto.
Em busca da transcendência, alguns elegem comprar e, assim, aplacam culpas e cultivam afetos. Esses e outros preceitos aparecem nas pesquisas do coordenador de Pós-Graduação em Ciências do Consumo Aplicadas da ESPM-SP, Mário Ernesto René Schweriner, que é doutor em Teologia e traça um panorama pouco otimista sobre a consciência de quem compra. Criou a palavra 'necejo' para expressar essa urgência contemporânea, um desejo muito forte transformado em nível de necessidade sem ser necessidade.
Na mesma linha, o psicólogo Luciano Sewaybricker assina um artigo sobre como a sociedade de consumo banaliza o conceito de felicidade, ressaltando que é ela objeto de desejo de todos e, assim, um produto excelente para ser vendido, pois será sempre almejado na maior quantidade possível.
Já a coordenadora do programa de pós-graduação em Administração da PUC-RS, Stefânia Ordovás de Almeida, antecipa tendências para os próximos 20 anos em experiências do consumidor no varejo, unindo internet e loja física com base em pesquisa desenvolvida por ela e Vinícius Sittoni Brasil.
Segundo Stefânia, percebe-se um empoderamento do consumidor, com maior capacidade de pesquisa e disseminação positiva ou negativa das informações sobre um determinado produto ou experiência de compra, em tempo real. Esse poder desloca-se do varejo e dilui-se entre consumidores, fabricantes e varejistas, com um compartilhamento de percepções.
- As pessoas vão ser mais conscientes de que existem novas formas de consumo. Marcas que utilizam trabalho escravo ou refrigerantes que usam água com sódio tendem a ser rejeitados, as pessoas querem empresas que possam confiar, que promovam o bem-estar do ser humano e da sociedade - afirma.
Com consumidores mais ativos, as empresas vão precisar preocupar-se em oferecer não só um produto, mas uma experiência positiva. O futuro do setor, de acordo com os pesquisadores, pode ser sintetizado em sete elementos para os quais todo o varejista deverá olhar e em uma única palavra, G.E.N.E.S.I.S:
:: Globalization (globalização): deve-se ter em mente que a globalização não é um momento único e estático no tempo; trata-se de um processo evolutivo composto por ciclos econômicos, políticos, culturais e cujos impactos se alteram a cada ciclo.
:: Experience (experiência): imaginar que os consumidores irão às compras apenas para adquirirem novos ou mais itens será um grande erro. Consumidores buscam - e buscarão mais e mais - emoções, sensações, ações, socialização, conhecimento em cada ato de compra.
:: Neighbourhood (vizinhança): a expansão geográfica cria novos bairros, cada vez mais planejados para atender perfis específicos de famílias, com interesses e necessidades específicas. Com isto, surgem cada vez mais bairros autossustentáveis, capazes de atender seus moradores, sem a necessidade de grande deslocamento.
:: Engagement (engajamento): repercutirá a necessidade de maior diálogo com o mercado e com seus consumidores, maior transparência quanto à origem de seus produtos, menor percepção de risco de suas atividades e dos próprios produtos comercializados. Em contrapartida, empresas que ignorarem isso poderão sofrer as consequências negativas deste processo.
:: Sustainability (sustentabilidade): refere-se a todas as formas de minimizar o impacto negativo na sociedade e no ambiente das atividades de negócios.
:: Interactivity (interatividade): falar em interatividade é falar em interação, consumidor-tecnologia, consumidor-colaborador, consumidor-consumidor.
:: Synchronism (sincronismo): um consumidor on-line, interativo, engajado, individualizado em suas experiências, mas coletivo em suas preocupações não exige apenas eficiência nas operações de varejo, exige sincronia. Fenômenos ocorrendo de forma simultânea exigem repensar a ideia de cadeia de valor, de cadeia de distribuição, exigem repensar a ideia tradicional de etapas ocorrendo de forma sucessiva.
Cultura
Caderno Dialeto de dezembro aborda as nuances do consumo
De um lado, aparecem consumidores devotos a marcas e, de outro, compradores empoderados
Tríssia Ordovás Sartori
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