Embora filosofia seja o tema principal dos seus livros, para Marcia Tiburi são a ficção e as memórias da sua infância que despertam a sensibilidade para a literatura. A filósofa teve o seu primeiro livro literário publicado em 2005, o romance Magnólia, primeiro volume de sua Trilogia Íntima. Mas a escritora gaúcha, natural de Vacaria e que estará neste sábado na 29ª Feira do Livro de Caxias, confessa que começou a escrever o seu primeiro romance bem antes disso, em 1998, ao mesmo tempo em que escrevia a sua tese de doutorado. Porém, o livro Era Meu Esse Rosto só foi entregue à editora 13 anos depois, em 2011.
-Eu escrevia para as gavetas, e por isso demorei muitos anos para terminar esse livro. No meio escrevi outras teses, ensaios, livros e artigos. Ia deixando esse na gaveta e ia reescrevendo, melhorando quando sobrava um tempo _ diz a autora, que durante esse tempo, publicou diversos livros de filosofia e ensaios, como As mulheres e a filosofia, Olho de Vidro _ A Televisão e o Estado de Exceção da Imagem e Filosofia em Comum _ Para Ler Junto.
-Era Meu Esse Rosto é o livro pelo qual a filósofa tem o maior e melhor afeto. Trata-se de um romance baseado em uma história real que Marcia ouviu na sua infância. Contada como se fosse um segredo, mesma emoção que sentiu ao escrever o livro.
-Esse livro é mais afetivo. É mais voltado para a vida que a gente vive, marcado com os sentimentos da infância, com toda a sua delicadeza. Acho que a gente nunca consegue olhar para a infância sem essa delicadeza. É um romance da vida _ conta.
A escritora também afirma que gosta muito de escrever livros com outras pessoas, como a série Diálogo. Para ela, a filosofia não é história dos pensadores, mas sim um método.
Muitas vezes, nosso pensamento nasce do pensamento dos outros, para afirmar ou negar o que o outro diz. Filosofia é muito mais uma criação coletiva. Ela se faz junto com o outro, pelo diálogo, pela conversação, é mais que uma teoria que tem a pretensão de dizer a verdade, ou que, pode ser aceita porque esgotou o assunto _ justifica.
A escritora conta que está ansiosa para a conversa com os leitores, afirma que o público de Caxias é muito inteligente e sempre gera ótimas conversas. Esta será a segunda vez que ela participa da Feira do Livro da cidade (a primeira foi em 2010). Ela aproveita a oportunidade para autografar o seu novo livro, Sociedade Fissurada, da editora Civilização Brasileira, escrito em parceria com a psicóloga Andréa Dias.
-Nós pensamos a questão das drogas, sem preconceitos, justamente para abrir um debate na sociedade e fazer as pessoas pensarem sobre as drogas e a banalização. Afinal, há certo império sobre o discurso do vício. Na nossa cultura contemporânea, esse se tornou um tema urgente. Enquanto a psicologia da Andréa busca mostrar o lado da saúde, eu escrevi do ponto de vista de uma sociedade filosófica _ explica.
Entre ensaios, romances, infantil, antologias e coautorias, ela tem mais de 20 livros publicados. E adianta que no próximo ano tem mais livros saindo do forno.
-Cada livro é uma história. E para mim, a filosofia e literatura funcionam juntas. Escrever é como partilhar a lucidez. Eu escrevo para colocar dúvida no mundo, o nosso mundo esta cheio de certeza, e a certeza não nos ajudam, não produzem democracia. Eu gosto mesmo é de colocar dúvida nas pessoas e as fazerem pensar e refletir.