Dor criada para curar a dor. Frase conhecida entre bluesmen e blueswomen, sintetiza um pouco como foi o surgimento do blues. O estilo musical nasceu com os escravos africanos que trabalhavam nas plantações de algodão no Delta do Mississippi, no século 18. Daí a impressão de muitos de que o blues é triste. Decidido a conhecer ao vivo esse universo, no segundo semestre de 2003, Toyo Bagoso juntou suas economias de pouco mais de 2 mil dólares e partiu para os Estados Unidos sem data para voltar.
Desde então, muita coisa aconteceu. A inauguração do Mississippi Delta Blues Bar em Caxias, em 2006, o primeiro Festival de Blues na cidade, em 2008... Sem mencionar a vida no Rio de Janeiro. Tudo isso está relacionado com a trajetória de Bagoso, o idealizador do festival que chega a quinta edição dias 22, 23 e 24 deste mês, no Largo da estação Férrea.
A cada ano, Bagoso busca nos Estados Unidos inspiração para colaborar com o cenário blueseiro caxiense. Seguidamente, seu sócio no bar, Rodrigo Parisotto, é companheiro de viagem. Em Clarksdale, costuma visitar antigas plantações, como a Docary Farm e a Hopson Plantation, onde bluesmen como Howling Wolf e Pinetop Perkins colheram algodão. Sempre que vai ao Delta, Toyo visita essas terras.
Para aproveitar o potencial turístico, próximo às plantações foram construídas pousadas com arquitetura em referência àquela época. São estabelecimentos como o Shack Up Inn, em Clarksdale, 'o destino final de amantes do blues e historiadores culturais', diz seu site. As casinhas que formam a pousada serviram de inspiração para a casinha construída perto do Mississippi em Caxias, ocasionalmente usada como palco para shows mais especiais.
A Shack Up Inn fica a três milhas da Hopson Plantation. Ao final da tarde, no por do sol, Toyo costuma pegar o carro e dirigir por uns 10 minutos até as plantações de algodão - ao som de algum blues, é claro. O resultado é um mar de pequenas flores cor de rosa (quando a planta ainda não está pronta para ser colhida) ao final do caminho.
- A gente se transporta para outra época. Fica imaginando como era a vida deles naquelas plantações. Quem vai disposto a andar encontra a comida da época, ouve o som da época... Por ser uma região pobre, é tudo meio abandonado. Agora, começou uma revitalização. E no meio da cidade ainda passa o trem, o transporte ferroviário é muito usado para cargas. Então é muito fácil sentir toda aquela atmosfera. Bem ou mal existe uma energia naquele local - conta Toyo.
Possivelmente em 2015, Toyo sonha em abrir uma filial do Mississippi no Rio de Janeiro. Propositalmente, após a Copa do Mundo, quando ele imagina encontrar imóveis com preços mais acessíveis.
Leia mais na revista Almanaque deste fim de semana.
Almanaque
Toyo Bagoso, o bluesman do Mississippi
Conheça a trajetória do idealizador do Mississippi Delta Blues Festival, que ocorre dias 22, 23 e 24 deste mês
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