Para estudar a fundo as causas e tratamentos das dores mais corriqueiras em crianças, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) elaborou o Consenso sobre Dores Pouco Valorizadas em Crianças. Trata-se de um material que aborda as principais dores infantis, como a cólica do lactente, uma das mais comuns em bebês.
Uma das principais causas de estresse dos pais, a cólica do bebê é caracterizada pela irritabilidade, choro inconsolável e grito acompanhado de mão apertada, flexão dos joelhos, excesso de gases e face vermelha. A cólica acomete bebês sadios e bem nutridos, geralmente ao final da tarde e início da noite, algumas semanas após o nascimento, e tem o pico em torno de cinco a oito semanas.
Além do sofrimento no bebê, estudos demonstram que a cólica, muitas vezes, produz sensação de impotência nos pais e até mesmo discórdia entre o casal.
- Não há um estudo clínico que comprove as causas da cólica, mas a ansiedade da família possui uma grande influência. O pediatra tem o papel fundamental de dar suporte à família nesse momento de ansiedade e angústia, no qual pais e familiares muitas vezes sentem-se impotentes diante da dor do recém-nascido - diz a pediatra Ana Teresa Stochero Leslie, da Universidade Federal de São Paulo.
Segundo ela, a cólica tende a passar em cerca de seis semanas, e os pais precisam estar cientes de que ela é fisiológica e temporária, desaparecendo com o desenvolvimento natural da flora intestinal do bebê.
O diagnóstico da cólica é clínico, porém é preciso uma completa avaliação médica para excluir outras dores que incomodam a criança nesse período, como otite média, infecção urinária, fratura, alergia à proteína do leite de vaca e refluxo gastresofágico. Caso a cólica seja realmente diagnosticada, o próximo passo é levantar as possíveis causas, que podem ser inúmeras: alteração de hormônios e microflora intestinais, alteração na absorção molecular intestinal e produção de gases, alergia à proteína do leite da vaca ou a outras substâncias na dieta materna, intolerância à lactose, problemas comportamentais, como tensão familiar, ansiedade materna ou inadequada interação pai-bebê, e fatores associados como tabagismo materno, idade materna avançada e o fato de ser o primeiro filho.
Para fazer o bebê se acalmar, pode-se iniciar com uma dieta materna hipoalergênica e com diminuição da ingestão de lactose. Após a tentativa de mudança na dieta materna, é indicado o uso de ervas para diminuir o nível da cólica. Três estudos feitos mostraram resultados significativos na melhora da dor com o uso de extrato de erva-doce e chá de ervas como camomila e erva-cidreira. A intervenção dos pais para dar conforto ao bebê também é muito significativa e importante para diminuição e controle da dor, seja por meio de massagens ou do toque.
O Consenso da SBP, apoiado pela Johnson & Johnson, foi elaborado por pediatras de diferentes especialidades e também por odontologistas, todos ligados à sociedade médica. Ao todo, o documento traz estudos sobre oito dores comuns entre a população infantil: cefaleia/enxaqueca, cólica do lactente, dor em erupção dental, desordens temporomandibulares, dor do crescimento, fibromialgia juvenil, dores relacionadas à prática de esportes e dor abdominal recorrente. O objetivo é ressaltar a importância de reconhecer e tratar essas dores, que embora sejam recorrentes, muitas vezes recebem pouca atenção.