A pesquisadora que tanto trabalhou pelo resgate e manutenção da história de Caxias e região também fez história. Em pesquisas e publicações, na museologia, na atuação política e social, na busca por tudo aquilo que o tempo, por vezes, trata de apagar, é impossível não atrelar seu nome ao passado da região — e ao futuro que se desenha a partir de seus trabalhos. Falamos de Tânia Maria Zardo Tonet, falecida na última segunda-feira, aos 69 anos.
Filha de Antonio Clemente Zardo e Olímpia Roman Ros,Tânia Maria Zardo nasceu em 22 de setembro de 1948, em Bento Gonçalves. Desde cedo, a jovem demonstrou interesse por assuntos como história e suas relações com a memória afetiva, o que levou-a a graduar-se em Filosofia, em 1970 — na sequência, vieram os estudos em Museologia, Folclore e História da América Latina.
Já a trajetória profissional teve início em meados dos anos 1970, quando Tânia passou a atuar junto a instituições ligadas à preservação da memória, como o Museu Municipal e o embrião do Arquivo Histórico, surgido em 1976, nos fundos do prédio da Rua Visconde de Pelotas. No fim daquela década, ela também uniu-se ao movimento para a preservação do antigo Hospital Carbone — então às vias de demolição e, desde 1999, sede oficial do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
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Os trabalhos
A rica trajetória de Tânia focada na preservação da história, por vezes, ocultou outros "pioneirismos". Em 1988, ela foi a primeira mulher a receber do Movimento Tradicionalista Gaúcho a Comenda Negrinho do Pastoreio. No ano seguinte, também foi a primeira mulher a assumir a vice-presidência de eventos do MTG.
Todo esse reconhecimento dialogou com uma série de outras atividades: a direção do Museu Municipal, a orientação histórico-antropológica para o filme O Quatrilho, a organização do Memorial do Hospital Pompéia e do acervo fotográfico da Rádio Caxias, a pesquisa para o restauro da Igreja de São Virgílio, o envolvimento com a Festa da Uva, o lançamento dos livros enfocando a trajetória das empresas Saccaro e Dalia, a coleta de informações para o álbum comemorativo dos 30 anos do Sindipetro Serra Gaúcha, a biografia de Raul Randon, a formatação do Museu de Território de Galópolis, a museografia do Instituto Hércules Galló, entre dezenas de outros trabalhos... que a história de Caxias dificilmente irá esquecer.
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Atuação em São Pelegrino
O falecimento de Tânia em 2018 coincide com os 20 anos de um dos trabalhos mais importantes da pesquisadora: a recuperação, a partir de 1998, do acervo da Casa de Memória São Pelegrino e todo o trabalho de restauração do templo, em parceria com a Sociedade de Cultura e Arte Aldo Locatelli (Scala). A partir daquela intervenção no subsolo, por exemplo, foi localizado um dos atuais destaques do espaço: a pedra fundamental da igreja, inaugurada oficialmente em 2 de agosto de 1953.
A forte ligação de Tania com o bairro também rendeu a publicação São Pelegrino - Quem te viu, quem te vê, lançada em 2015, em parceria com o filho Charles Tonet e a jornalista Ana Seerig. Lá estão resgatadas histórias de ícones como o Pastifício Caxiense, o Cine Teatro Real, os colégios La Salle e São Carlos, o Moinho Progresso, a Importadora Comercial, a igreja e diversos outros endereços que fizeram e fazem a história do bairro.
Aliás, é na Igreja de São Pelegrino, cuja memória ajudou a resgatar, que as últimas homenagens serão prestadas. A missa de sétimo dia ocorre neste domingo, às 17h. Tânia Maria Zardo Tonet deixa o marido, Jucir Tonet, 73 anos, e o filho Charles, 39.
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Cidadã Caxiense
Em 2016, Tânia Tonet recebeu o título de Cidadã Caxiense da Câmara Municipal de Vereadores, devido à contribuição que exerceu na reconstrução da história da imigração italiana na região.
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