A indústria impacta a rotina da sociedade contemporânea a todo o momento. Da cafeteira ao aplicativo de mobilidade, passando por seu aparelho celular, quase tudo o que tocamos passou por uma fábrica. Isso dá uma ideia da importância do setor para a economia brasileira. Junto com os Serviços, a Indústria responde por mais de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, sendo responsável também por dois terços dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Porém, em um momento de retomada da industrialização, é preciso evidenciar essa relevância para atrair desenvolvimento e novos talentos para o setor.
É por isso que o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul e Região (Simecs) lançou a campanha “A Indústria tá em tudo”. A ideia é conectar a sociedade com a realidade da indústria, capacitar empresários para tendências como a descarbonização, contribuir para a educação profissionalizante e incentivar os jovens a conhecer e a participar dessa área.
– Essa campanha é para uma visualização da pertinência da indústria. Não se falava tanto na indústria [nos últimos anos]. Ela foi perdendo essa projeção. Mas a indústria tá em tudo. Se a gente prestar atenção, está na geladeira da cozinha e nos componentes de plástico. A capinha do celular que estou usando saiu de um molde da indústria metalúrgica, que daí foi para a indústria do plástico, que o injetou e comercializou. Mas acabamos pecando na visualização desse processo. Isso se tornou comum e o valor fica imperceptível se a gente não falar do óbvio – comentou o presidente da entidade, Ubiratã Rezler, em entrevista concedida durante a Mercopar 2023.
O Simecs tem 67 anos de história e é uma das maiores entidades sindicais patronais do sul do país em seu segmento. Sediada em Caxias do Sul e atuando em 17 municípios da Serra Gaúcha, a entidade representa mais de 4,5 mil empresas de pequeno, médio e grande porte, que oferecem 71 mil postos de trabalho e têm faturamento anual na ordem de R$ 50 bilhões. Em seu papel de impulsionador da competitividade e do desenvolvimento das indústrias Metalúrgica, Mecânica e de Material Elétrico, a entidade espera que a campanha reverbere em outros sindicatos e associações co-irmãs, despertando o setor para um cenário de protagonismo.
Abaixo, Ubiratã Rezler fala sobre a iniciativa do Simecs e outras ações de valorização do setor. Confira:
A campanha “A Indústria tá em Tudo” tem um grande foco no público jovem. Por que essa distinção?
A Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) fez uma pesquisa sobre as percepções do jovem frente à indústria e, como era de se esperar, ele não a enxerga como um lugar adequado para se trabalhar, como um lugar seguro, com uma visão de carreira. Ele acha a indústria pesada, que não é um trabalho saudável, que não dá benefícios, que as pessoas não têm qualidade de vida, o que é extremamente equivocado. Em nossa região, temos 90% de empresas de pequeno porte, algumas não têm uma estrutura tão ampla, porque o mercado a faz mais restrita. A evolução de custos de matéria-prima é bastante alta. O Custo Brasil pesa muito e, em alguns casos, essas indústrias têm uma visão de investimento em melhorias um pouco mais lenta.
A intenção também é atrair esses jovens para o trabalho industrial?
Vamos trabalhar para que ele possa perceber que a indústria está em tudo, está ao seu redor desde que ele acorda até quando vai dormir, para que ele possa se encontrar dentro dessa indústria. E, claro, olhamos também para o ensino profissionalizante voltado para o trabalho na indústria, com os parceiros que nós temos, para potencializá-los também, no que diz respeito à formação. Pensa-se muito na indústria olhando para o trabalho da produção, que muitos chamam de “chão de fábrica”, mas queremos contribuir para que o jovem entenda que há outros espaços, mas que falta qualificação. Nesse sentido, esperamos que ele entenda que, com qualificação, a indústria é, sim, uma ótima oportunidade.
E junto ao empresário da indústria, como a campanha funciona?
É um trabalho anterior. A partir de 2017, quando a contribuição compulsória deixou de existir, passamos a trabalhar muito na questão da valorização do Simecs frente às empresas. Entendemos que para apoiar as ações do Simecs, elas têm que ver valor nessas ações. E também, como não tem mais o compulsório, precisamos de um determinado recurso para gerar ações. Hoje, todo o recurso que arrecadamos é reinvestido completamente. Temos o “breakeven” [quando os ganhos de uma empresa se igualam com os custos], empatamos as nossas contas para reinvestir em ações para os associados. Logicamente, eles são atendidos com um custo reduzido, algumas vezes sem custo e os demais a gente vai angariando para dentro do Simecs.
O Simecs investe bastante na capacitação dos empresários. Que ações o senhor destacaria?
Estamos em uma era bastante forte de digitalização de processos e robotização. O empresário precisa adequar a sua empresa para o futuro e também adequar a sua visão. Então, temos alguns cursos, como o “Do Lean a Indústria 4.0”, em parceria com SENAI, para lideranças e trabalhadores da indústria; o Gestão Fácil, feito em parceria com o Sebrae RS em empresas de pequeno porte para atacar deficiências em gestão financeira, marketing ou gestão comercial, por exemplo. Também temos projetos para internacionalização, com um parceiro que é a Universidade de Durham. “Educamos” as empresas fazendo chegar a elas informação, conteúdo e conhecimento para olhar o mercado internacional, tanto de venda quanto de compra, de uma forma robusta. E ainda temos o Programa de Aperfeiçoamento de Dirigentes (PAD) e também o Programa de Desenvolvimento de Sucessores (PDS), com a Dom Cabral.
E quanto à adequação das empresas a processos ESG?
Um projeto importante que estamos desenvolvendo é sobre descarbonização. Em parceria com o Senai e com o Sebrae RS, queremos fazer um diagnóstico nas empresas da região, saber o quanto estão maduras para poder fazer uma evolução na visão ESG, na visão de ambiente, no que diz respeito à emissão de carbono. Isso tudo é preparado com a visão de médio e longo prazo. Não queremos o resultado imediato, mas identificar essas empresas, promover o inventário de gás de efeito estufa e, então, promover a neutralização da emissão do carbono. Isso é necessário para várias indústrias de vários setores do Brasil e do mundo, ainda mais àquelas que querem se internacionalizar.
O Simecs conta ainda com comissões técnicas e câmaras setoriais para agregar as indústrias da serra de diversos setores. Como o senhor identifica a efetividade dessas ações?
Ninguém consegue fazer trabalho de modificação ou de melhoria do status sozinho. Acho temerário quem pensa que sozinho consegue fazer transformações no seu negócio, olhando só para si, sem compartilhar. O mesmo vale para o empresário que não aceita dividir com os outros as suas fragilidades. O empresário que entende sua condição, o momento em que está, que existem parceiros para auxiliá-lo e participam de movimentos associativistas, consegue fazer uma transformação dele, da sociedade e do ecossistema de indústrias onde ele está inserido. Então, descentralizamos bastante as ações. Temos um núcleo que reúne São Marcos, Flores da Cunha e Nova Pádua, que também desenvolve o trabalho de mulheres empresárias e mulheres na indústria. Outro núcleo reúne Carlos Barbosa, Garibaldi e Farroupilha, e temos um outro núcleo que abrange a região de Veranópolis, Nova Prata e outras cidades daquela região; tudo com o intuito de aproximar as indústrias do Simecs, aproximar os empresários ao sistema associativista, formando pessoas capazes de promover o desenvolvimento dessa nossa região nesse primeiro momento. Mas isso transformará o nosso ambiente como um todo, o nosso Estado, transformando o nosso país, e assim por diante.