Um dos festivais mais tradicionais a manter viva a cultura musical gaúcha, a Califórnia da Canção Nativa escolheu uma composição caxiense como principal vencedora. A decisão foi anunciada na noite de domingo (19), em Uruguaiana. O caxiense Hermes Lopes é o autor da milonga O Tempo de Meu Pai, que conquistou a Calhandra de Ouro no festival. A composição foi interpretada pelo artista Nilton Ferreira (natural de São Francisco de Assis), também autor da melodia.
Ainda se deslocando de Uruguaiana a Caxias, na manhã desta segunda (20), Hermes conversou com a coluna sobre a conquista. O compositor acompanha o festival desde os anos 1980. Aliás, foi num acampamento da Califórnia da Canção que Grupo de Tradições Gaúchas (GTG) Potro Serrano, do qual Hermes é integrante em Caxias, foi formado.
— Naquela época, nem nos mais remotos sonhos imaginei que um dia poderia concorrer numa Califórnia, muito menos vir a ganhar — contou Hermes.
A Calhandra de Ouro que Hermes está trazendo a Caxias é itinerante. Ficará na cidade durante um ano e, em 2022, voltará a Uruguaiana para receber um novo dono. Hermes ficará então com uma réplica do troféu.
— Esta Calhandra já andou com José Cláudio Machado, Leopoldo Rassier, Os Serranos, João de Almeida Neto, Grupo Parceria, com inúmeros nomes de extrema importância do nativismo gaúcho e da nossa tradição. Para minha felicidade, está indo para Caxias — comemorou o compositor.
Inspiração
Escrever é um hobby que Hermes acumula com a profissão de representante comercial. Ele tem 62 anos e conta que se aventurou no mundo da composição por influência e incentivo do amigo Telmo de Lima Freitas, que morreu em fevereiro deste ano. Foi também com certa inspiração nos ensinamentos de Telmo que Hermes criou a premiada O Tempo de Meu Pai. A canção fala da passagem do tempo, da finitude — questões que também vieram à tona muito por conta da pandemia. Os versos de Hermes narram o olhar de um filho que observa o pai esquecer das lidas campeiras que mais gostava por conta do Alzheimer.
— É um tema muito atual, está presente em tantos lares. Se não está no lar da gente, está no lar de quem está próximo. Escrever a letra não foi tão complexo, porque é vida real, não tem ficção, não tem ilusões — analisou o compositor.
Para dar voz e sentimento à letra, Hermes pensou logo em Nilton Ferreira, que aceitou prontamente. A canção foi gravada ainda em 2020 e ficou guardada. A dupla decidiu inscrevê-la na Califórnia meio na corrida, em cima da hora.
— Nós nem havíamos atinado ao tema da Califórnia deste ano, que era "50 anos: Tradição de pai para filho". Foi uma feliz coincidência — alegrou-se Hermes.