O Rio Grande do Sul é um Estado beatlemaníaco, e esse não é um fenômeno a ser explicado, melhor mesmo é celebrá-lo. Por isso, uma incursão do mito Paul McCartney em Porto Alegre também não precisa de muita explicação. Seja pela primeira, segunda ou pela décima vez, estar no mesmo ambiente da figura imaculada de um beatle sempre será um ritual mágico, emocionante, grandioso.
O show de Paul que ocupou o Beira-Rio na última sexta, sete anos depois da primeira vez dele em solo gaúcho, veio acompanhado de tudo aquilo que a plateia esperava. Teve muita interação e simpatia – todo mundo se derretendo com as tentativas fofas do ídolo em falar português–, teve dancinhas animadas, teve efeitos especiais – ah, os fogos de Live and Let Die! –e teve ainda o suporte de uma banda poderosa num setlist pra lá de especial.
Para os fãs que estavam na presença de Paul pela primeira vez (eu!), a entrada do ídolo no palco causou aquela sensação imediata de “me belisca, não tô acreditando”. Ele surgiu vestindo um casaco estilo terninho militar inglês, empunhando seu baixo Hofner clássico e exibindo aquele mesmo sorriso que o mundo conheceu nos anos 1960. O contato visual inicial não poderia ganhar melhor trilha: Paul entrou cantando A Hard Day’s Night, um dos maiores clássicos dos Beatles.
Sim, as canções do fab four ditariam cerca de 70% do repertório da noite, que teve ainda lindezas como Can’t Buy Me Love, Got to Get You Into My Life, I’ve Got a Feeling, We Can Work it Out, You Won’t See Me, Love me Do, And I Love Her, Eleanor Rigby, I Wanna Be Your Man, A Day in The Life. Canções como Let it Be, Something, Hey Jude (com a já clássica participação da luz dos celulares da plateia e de balões coloridos) e Yesterday (no bis) geraram momentos de catarse.
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Mas, por mais que ao assistir a performance de um beatle o público possa sentir-se um tanto anestesiado, Sir Paul faz questão de usar sua popularidade para passar recados importantes. Não se trata apenas de celebrar uma carreira musical impecável, o ídolo faz questão de lembrar a qualquer desaviado de que sua trajetória como artista também envolve militância, posição. Assim, a bandeira do movimento LGBT flamejando ao lado das bandeiras da Grã-Betanha e do Brasil, na entrada da banda para o bis, foi um recado importante para o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Ao anunciar Blackbird, canção inspirada pelas sangrentas disputas raciais que mancharam os EUA nos anos 1960, Paul mencionou a importância dos direitos humanos. E fez questão de repetir essas duas palavras devagar e em português: direitos humanos.
Paul não precisa clamar para que suas músicas sejam ouvidas, óbvio, mas o lendário músico ainda luta para ser ouvido além da arte. E o que ele tem a dizer é muito importante!