Das facetas mais conhecidas do escritor chileno Pablo Neruda, o diretor Pablo Larraín escolheu a política para focar atenções na cinebiografia Neruda, estreia de hoje na Sala de Cinema Ulysses Geremia. O longa, no entanto, muda completamente o tom na última meia hora, oferecendo ao espectador doses mais generosas do que todo fã de Neruda espera reconhecer numa obra que o homenageia: poesia. A narrativa abre com Neruda (vivido por Luis Gnecco, numa caracterização que o deixou muito parecido fisicamente com o escritor) já na posição de senador. Eleito em 1945, o político está no cerne de uma briga com o governo chileno por conta de suas posições de esquerda. O poeta comunista era incisivo em seus discursos e acabou se tornando alvo da polícia do país por criticar o presidente. O escritor, então, precisa se esconder e é exilado.
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O policial Peluchonneau, que caça Neruda em todos os cantos, é justamente quem narra a história sob voz e pele de Gael García Bernal. Essa escolha pode parecer estranha num primeiro momento. Afinal, é o policial quem apresenta Neruda ao espectador, apesar de estar contra ele. Mesmo com a missão de prender e humilhar o escritor, o policial parece obcecado por descobrir mais sobre sua “presa”, buscando respostas no que ele escreveu nos livros ou espiando sua intimidade – junto com o espectador, claro.
Aos poucos, outras facetas além da política vão aparacendo e ajudam a compor o imaginário conhecido de Neruda. O lado mulherengo está ali, entretanto, o diretor preferiu mostrar com mais detalhes a relação do escritor com a pintora e aristocrata argentina Delia del Carril, uma de suas grandes paixões. É ela quem o acompanha durante a fuga e é ela quem chama a atenção do espectador para o momento mais especial do longa.
Pouco dá para falar sobre a última meia hora do filme sem estragar o que talvez seja a jogada mais inteligente do roteiro. O que se pode adiantar é que Larraín quis colocar a alma da escrita de Neruda nas ações dos personagens que estão na tela. Se na primeira hora de filme a política parece personagem principal, depois é a literatura que toma conta, mas de uma maneira bem nerudiana. Larraín quis brincar com a relação entre ficção e realidade, tal qual o escritor fazia. Aliás, uma de suas principais fontes para o filme foi uma travessia de Neruda pelos Andes narrada pelo próprio escritor quando ganhou o Nobel de Literatura em 1971. O episódio cheio de detalhes fantásticos povoou o desfecho da história que Larraín leva aos cinemas. “Um homem tão denso não caberia numa biografia tradicional”, justificou o diretor em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Programe-se
:: O que: cinebiografia Neruda, de Pablo Larraínz
:: Quando: estreia hoje e fica em cartaz até 30 de abril, com sessões quintas e sextas, às 19h30min, e sábados e domingos, às 20h
:: Onde: Sala Ulysses Geremia (Luiz Antunes, 312)
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos)
:: Duração: 108minz Classificação: 12 anos