É preciso pensar no meio ambiente. É necessário pensar no próximo. É imprescindível pensar no futuro das crianças. Sim, tudo isso deve estar sempre em nosso radar, em nossas orações e, sobretudo, em nossas atitudes. Mas, e no nosso próprio bem-estar presente, estamos pensando?
E os sonhos e desejos que guardamos lá na profunda intimidade, temos lutado para que sejam realidade? Ou temos deixado que eles escoem como areia por entre os dedos até ficar só a sujeira daquilo que poderia ter sido e não foi.
O eu deve ser engolido pelo nós? O coletivo se sobrepõe ao indivíduo, isso é o correto? Pensar em si antes do outro é um problema? Ser egoísta é sempre ruim?
Tantas perguntas para dizer que vejo gente (e aqui me incluo) que se sente culpada por priorizar seus bons dias, sua sanidade mental e seu desenvolvimento pessoal. A lógica cristã que não lê nossos tempos nos entregou intrinsecamente uma série de arroubos de dor social, onde não nos permitimos felicidade real dentro da existência, a única que temos e não nos sentimos autorizados para vivê-la.
Toda realidade que a sociedade nos permite nos leva para tão distante de nós, não é? O trabalho que não traz saciedade, a casa que mantemos para os outros, a maternidade que é embasada em manuais alheios, os relacionamentos que são cheios de regras que não criamos. Vivemos sonhos que não são nossos, nunca foram: tudo o que fazemos veio embalado, tudo encaixotado pronto para usar.
E, a sociedade ainda nos quer felizes. Sim, sorridentes e luminosos mundo afora. Dentes arreganhados num forjar alegria sobre um monte de ossos daqueles que viveram à risca essa fórmula vencida e não foram felizes.
Desconheço quem seguiu à risca os velhos mandamentos sociais e está bem. N’outro ponto, vejo saúde entre as pessoas que vivem segundo seus naturais princípios, forjados em imensa colheita localizada entre presente-passado-futuro.
Digo-me pessoa muito bem sucedida, sabia? Passei feroz e quase sempre sorridente por tudo que me sucedeu. Correndo nas tempestades e saltando escombros com olhos brilhantes que, ora transmitiam minha esperança, ora escancararam minha quase insanidade. Afinal, não pode ser bem sã quem escolhe sempre a si, apesar de tudo.
Creio ter vindo ao mundo numa leva de gente dotada da mais profunda insatisfação. Tenho cá dentro, lá no fundo, uma vontade absurda de sempre viver mais. Muito mais do jeito que que fui concebendo ser bom para mim. E, creio de verdade, que o bom para mim é o melhor para quem amo. Amo mais e melhor quando sou eu e não aceito nada que seja menos.
Assim, sendo egoísta e feliz, tendo meus dias cada vez mais meus, sigo a saga, cumpro a sina. Não nasci para viver de joelhos, cedendo a mestres invisíveis.