O amor fala. Pela boca de quem ama, ele fala. Pelas atitudes de quem ama, ele grita. Assim como tudo no universo, que se desdobra em múltiplas linguagens e se perdem a nos dizer tudo o que precisa ser dito, o amor quer falar. Ele tem muito a dizer.
O vento que nos atravessa emaranhando os cabelos e a chuva que vem tardia caindo firme sobre a terra, levantando poeira e um cheiro de renovação, diz algo importante sobre o momento que passamos. Há significados e significantes em cada evento natural. E o que é o amor se não a manifestação-mor do natural e incontrolável em nós?
Como boa linguista que sou, passo tempos a observar o amor falando, tentando entender em mim como ele se manifesta. Buscando a compreensão sobre qual língua ele devia falar comigo para que eu pudesse absorver a mensagem plenamente. Para mim, fazer da comunicação do amor efetiva é encontrar a reciprocidade do senti-lo.
Sim, sou analítica para além da conta. Poderia só me entregar ao sentimento, submergir e emergir nessa emoção que é movimento puro, me deixar levar tal qual rosas brancas em oferenda à Iemanjá. Mas não é do meu feitio esse deixar-se às ondas, sou mastro de navio forjado em madeira velha e aço brabo, não cedo ante às minhas incompreensões. Mas me liberto no saber o quê e qual o propósito das coisas, me liberto intimamente no propósito de viver. Sobre propósitos é onde calço minha existência e é sobre eles que caminho, galgando novas estradas. No amor que sinto ou recebo, não seria diferente.
Prefiro amores reais, que batem ponto, fazem hora extra e não sucumbem à primeira dificuldade. Amo os amores persistentes em ser quem são e valorizam sua própria forma. Louvo os amores que se comprometem sem anúncios ou autopropagandas, eles lá estão e todos sabem, nada há a provar.
O amor fala comigo — e eu o escuto nitidamente — quando sorrisos brotam no vão que existe entre as individualidades de cada um dos seres e compõem o tal casal. Risos brotam como mudinhas mínimas, que, no início eram frágeis, e, do nada, têm tanta robustez que vira promessa de árvore, dado respeito ao tempo de seu desenvolvimento.
Gosto quando o amor se faz espelho, e, do corpo e da alma nua do ser amado, a beleza se apresenta nas fragilidades e inseguranças. Ao passo que esse espelho é o reflexo do que nos é comum, numa coletividade que só tem a nos aproximar, caso nos permitamos baixar a guarda, caso nos livramos dos mitos e contos de fadas, caso encaramos o estar com o outro como bênção e não fardo. E, sobretudo, o amor nos faz morada quando adentramos com cuidado ao humano que há em nós e no outro.
Amar é missão. E o amor fala disso a cada instante. Algumas missões duram anos, outras dias, algumas poucas se estendem à eternidade. Não importa o tempo de exercício da missão dada, o mérito está no quanto se entrega a ela. Eu, particularmente, me entrego em totalidade às missões do amor, com doação inteiriça, mas somente após entender que a missão vale a vida.