Faz uns bons anos que eu estava no centro da cidade e avistei pela primeira vez a placa de um banco que dizia ser 30 horas. Não sei ao certo quem estava comigo, mas é fato que a pessoa precisou encontrar um jeito de explicar para uma criança como encaixar um quadrado dentro de um círculo. Desde aquele dia, desejei por várias vezes que minhas semanas tivessem a duração de uma quinzena e que o sol demorasse muito mais tempo para se pôr.
Que a vida passa rápido e que corremos um pouco mais a cada dia todo mundo sabe. O que a gente não repara (talvez justamente pela escassez de tempo) é que poderíamos ter brechas para eventuais respiros se eliminássemos alguns obstáculos do caminho. Em um único dia —infelizmente de apenas 24 horas —, é possível encontrar um punhado de acontecimentos desnecessários que de alguma forma permitimos existir. Seja uma discussão tola, um ódio gratuito que se mantém por inércia, um rancor arrastado que patina em silêncio, uma fofoca que não leva a lugar nenhum ou qualquer outra tribulação. Por que é que insistimos em perder tempo quando adoramos dizer que não temos tempo a perder?
Dos atravancos, quem sabe “os outros” sejam os empecilhos mais poderosos. Pessoas carregam a capacidade de nos atrasar, e nós — também pessoas — carregamos a tarefa de limitar o quanto elas podem fazer isso. Recentemente ganhei estrelinha na testa na terapia por impor limite onde deveria, e mesmo que seja doloroso perceber que levei tantos anos para efetivar tal ação, fico feliz por ter aprendido. Quando decidimos eliminar tudo aquilo que nos atrasa, detalhes banais e pessoas que não acrescentam ficam de fora. Nada disso tem espaço porque só aceitamos o que agrega, o que nos melhora, o que é positivo.
Coloquei em prática essa proposta de abraçar o que me abraça e afastar o que me atrasa. Não quero soar como lição de livro de autoajuda, porém tem funcionado até então. Os dias ainda seriam ótimos com 30 horas, e quem sabe nós faríamos mais do que já fazemos só por saber que o tempo seria maior. Entretanto, já que o relógio continua com 24 horas, que sejamos autocríticos e seletivos. Que a leveza de viver o que se quer e aquilo que faz bem seja prioridade sempre.