Entrei em desespero na semana passada. Ao comentar com um amigo que fui (re)assistir Titanic no cinema, em uma exibição alusiva aos 25 anos do filme, imediatamente tive um baque: ele nunca viu o longa. O desconforto gerado misturou-se à indignação porque eu sempre considerei a obra como uma referência, além de fazer parte da minha vida já que foi responsável por me introduzir no mundo das artes. Dessa vez, porém, ao invés de me considerar um tiozão em potencial, preferi bancar a Pollyana (outro termo que só os mais antigos devem entender) e fiquei contente. Minha argumentação ficou de lado quando convidei meu amigo para ir ao cinema.
Com o aceite em mãos, senti uma oportunidade inédita de acelerar cada fio de eletricidade presente em meu corpo. A ideia de apresentar a história do navio mais famoso do mundo para alguém que ainda não o conhecia me soou como uma espécie de legado que é repassado de geração em geração. Apesar do sentimento folclórico reforçar os habituais temores da idade batendo na porta, agarrei a chance e assistimos ao filme. A surpresa mesmo ficou por minha conta, já que foi provavelmente a 60ª vez que assisti ao longa (sem exageros), e pela primeira vez eu chorei – ou melhor, solucei de tanto chorar.
Sorte a minha que o mico foi coletivo. A cada fungada que soltava, outras tantas tomavam coragem para aparecer também. Na telona, Jack e Rose continuavam com o mesmo destino infeliz: a morte ainda presente para separá-los, mesmo 25 anos depois. Por mais que eu tenha decorado algumas falas e saiba as cenas de trás para frente, ainda existiu uma esperança intrínseca de que um final feliz surgisse do nada. O sentimento foi o suficiente para acender em mim essa ambivalência que carregamos ao acreditar que tudo pode ser diferente, mas também igual. Eu ainda amo e sinto e vivo cada minuto dessa grandiosidade cinematográfica que permeia minha vida, e não mudaria absolutamente nada. Ao mesmo tempo, existe uma expectativa de que tudo dê certo nos minutos finais, mesmo sabendo que a morte nunca separou o maior amor do cinema moderno.
O resumo de toda a tragédia romântica (outra questão ambivalente) é que certas coisas envelhecem muito bem. Titanic continua sendo o mesmo filme primoroso que fazia filas nos corredores de shopping em 1998 e travava brigas nas locadoras para ver quem alugaria as duas fitas VHS. Se o contrário fosse, a história seria semelhante aos cheques, item desconhecido pelo meu primo de segundo grau que tem 7 anos. Pudera mesmo, já que a queda de 94% nas últimas décadas valida a teoria: só entra em desuso quem não aprende a se adaptar ao longo dos anos.
Assim sendo, a minha nova meta é ser um Titanic da vida - quero não só saber envelhecer, como também saber envelhecer muito bem.