Desde que me entendo por gente, sempre tive uma pressa enorme em existir. Quem sabe a responsabilidade disso deva cair sobre as milhares de ideias que trafegam em descontrole dentro da mente, onde o objetivo comum entre todas é tomar forma. Foi por isso mesmo que executei projetos, lancei livros e “dei a cara a tapa” muitas vezes sem nem saber o que o tal tapa significava. Contudo, prefiro me concentrar no sentimento gratificante que é olhar para trás e saber que tudo aquilo que eu quis fazer simplesmente foi feito.
A autorrealização é uma meta recorrente para todos nós. Queremos sentir que estamos fazendo exatamente aquilo que nascemos para fazer. Entre perrengues da vida acadêmica e contratempos dos primeiros empregos, eventualmente atingimos a profissão e o emprego desejados. Seja qual for a área, o que reparo muitas vezes é um certo receio: será que estou pronto?
Em paralelo, continuamos estudando e nos matriculamos em meia dúzia de cursinhos de fim de semana. Procuramos espelhar-se naqueles tidos como referência, pois estes sim estão prontos (ao menos, é o que acreditamos). O resultado é um tempo que passa rápido demais e que nos faz ter menos e menos coragem, pois a esta altura já acreditamos que nunca saberemos o suficiente, além de que a cautela que acreditamos que deva existir nos mantém muitas vezes no mesmo lugar. É um ciclo onde o novo e o arriscado assustam, e aí nos acostumamos ao que é cômodo.
Opiniões à parte, prefiro acreditar que pensar que um dia nos sentiremos prontos o suficiente é utopia. Tão inatingível quanto acreditar que podemos, ainda nesta vida, ser perfeitos. Como bem pontuou Cortella (em seu livro que não ironicamente chama Não nascemos prontos), “gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta e vai se fazendo”. E é exatamente aqui que se esconde o segredo-não-tão-secreto que talvez você só fosse descobrir no best seller daquele coach que surgiu do nada mas que já surgiu “prontíssimo”: o importante é quão dispostos estamos em nos fazer. Até quanto consigo me construir?
Certa vez escutei em um programa de empreendedorismo que se você não sente vergonha de algo que já fez, é porque começou tarde demais. Fico imensamente feliz em relembrar quantos erros de (falta de) estratégia já cometi, ou quantos materiais já lancei e que hoje não julgo serem os melhores. Dou risada porque faz parte. Tá na minha história. É claro que lá na frente faremos melhor o que fizemos ontem (até porque, a ideia é que seremos melhores também). Mas isso não anula que tudo fez sentido e estava em sua melhor versão quando realizado. E a moral toda é sobre isso mesmo: existir, do jeito que for. Porque o importante é fazer e ir se fazendo com aquilo que temos (e somos) hoje.