Ganhei um elogio da minha psicóloga. Eu estava falando sobre como aprendi a gostar da minha própria companhia, sobre como eu descobri que a maioria das coisas não são permanentes e de permanente mesmo só a gente, consigo mesmo, o tempo todo, até o fim. Também disse que eu venho entendendo que se eu não fizer, ninguém mais fará por mim, e que a gente é muito maior do que pensa quando estamos sozinhos - é nesses momentos que descobrimos até onde conseguimos ir por conta própria (e eu te juro que é bem mais longe do que pensamos).
Aquilo que escutei em troca foi básico, porém pouca gente faz. A minha psicóloga disse que um dos maiores sinais de amadurecimento é quando a gente descobre que se basta, e que estar só e se sentir bem com isso é um campo pouco explorado, quando na verdade deveria ser a base para que estejamos prontos para viver nossas relações interpessoais. Sem o prazer da nossa própria companhia, fica difícil estabelecer qualquer elo.
Lembrei que no começo do ano eu viajei sozinho para fora do país pela primeira vez. Pensando agora, eu nem sei como tive coragem para viajar quase 11 mil quilômetros, desembarcar em um local novo e desconhecido, cheio de caminhos que eu nem mesmo sabia como cruzar. Acontece que se a gente pensa muito, bate um pouco de medo, sabe? Mas quando queremos e colocamos na cabeça, a gente só vai.
E eu fui.
E eu voltei.
Deu tudo certo.
Estar só é conviver com silêncios. É descobrir-se como ser humano capaz de muitas coisas, até mesmo daquelas que nós sempre acreditamos que precisaríamos de alguém para fazer por nós. É aprender a andar desde cedo sem bengala, é ganhar tempo para se fazer feliz - seja pedir uma pizza inteira para comer sem dividir, seja poder escolher o filme que vai ver sem grandes discussões. É claro que estar só também é viajar e não ter ninguém para tirar uma foto sua, ou alguém para compartilhar a sua excitação sobre um ponto turístico. Mas eu prefiro acreditar que, mesmo assim, essas experiências são necessárias. Nós precisamos nos experimentar para nos conhecermos melhor.
Dias atrás eu estava em uma janta com alguns amigos e mencionei o fato de, vez que outra, ir ao cinema sozinho. A cara de espanto foi quase unânime, e poucos foram os que não acharam a iniciativa um absurdo. Comentei sobre a experiência como um todo e, mesmo apontando todos os pontos positivos, ainda teve quem perguntou: mas você não tinha companhia naquele dia?
Tinha sim, respondi. Eu.
E quando eu me convidei para sair, a resposta foi confortadora: eu adoraria.