Há exatos 20 anos, em 21 de outubro de 2003, astrônomos do Observatório Palomar, na Califórnia, fotografaram por primeiro o que seria depois identificado como um possível décimo planeta do sistema solar. Muito além da órbita de Plutão, o pequeno astro gira tão longe, mas tão longe, que leva em torno de 560 anos para dar uma volta completa em torno do Sol. Foi inicialmente batizado de Xena, em homenagem à princesa guerreira do seriado televisivo. Sincronicamente, uma batalha sem igual dividiu os astrônomos. E o que seria o décimo planeta terminou sendo rebatizado de Éris, em alusão à deusa grega da discórdia.
A suposição de que Éris seria maior que Plutão e a possibilidade de haver outros astros parecidos naquela região do céu provocaram um abalo no que se entendia por planeta. Criou-se, assim, a categoria de planeta-anão, abrangendo também o próprio Plutão, agora destronado do posto de nono membro da família solar. Fiel ao espírito beligerante de Éris, a questão está longe de uma solução definitiva, haja vista o movimento de muitos astrônomos pela reabilitação de Plutão como planeta. Hoje sabemos que ele é pouco maior que Éris.
Para a astrologia, interessada na contrapartida simbólica do céu, tal cizânia não altera em nada o significado já observado de Plutão. Mas ganhou-se um novo corpo celeste, a ser estudado em busca de suas vibrações simbólicas. Como já havia ocorrido com as descobertas de Urano, Netuno e Plutão, os fatos sincrônicos sempre são pistas do que veio sinalizar o novo astro. E as querelas em torno de Éris ilustram isso. A discórdia apaixonada parece ser um tema desses tempos. Assim o confirmam também as narrativas míticas sobre a perigosa Éris.
Essa entidade das disputas esteve na origem do mais sangrento episódio bélico da mitologia grega, a Guerra de Troia. Tudo começou quando Éris, não convidada a uma festa por motivos óbvios — onde ela estivesse, o pau quebrava —, apareceu por lá de passagem e lançou na mesa uma maçã de ouro dedicada à deusa mais bela. Hera, Atena e Afrodite esticaram a mão para pegar a maçã; Zeus, o deus maioral, pulou fora do papel de juiz, e o julgamento final ficou a cargo do troiano Páris, que deu a Afrodite o prêmio em troca do amor da mais linda mulher, a grega Helena, já casada com Menelau. Rios de sangue jorraram a seguir. E Éris adorou mirar a carnificina da guerra que opôs gregos e troianos.
Embora muitos astrólogos já estejam trabalhando com interpretações da passagem atual de Éris pelo signo de Áries, ainda é cedo para apontar uma regência do novo astro sobre algum signo específico. Mas é certo que o véu da discórdia gratuita foi descerrado sobre nosso mundo. A partir do mito, os astrônomos chamaram a lua de Éris de Dismonia, uma de suas filhas, cujo nome significa ilegalidade e desordem cívica. Sim, faz tempo que mãe e filha estão contentes por aí, em meio a haters, disseminadores de mentiras e agentes da violência e do caos social.
Mas nada de deixar imperar o ódio cego. Todo astro tem luz e sombra. O poeta grego Hesíodo já falava em duas Discórdias (Éris): uma maléfica, filha de Nix, a noite primordial, e outra útil e saudável, enviada por Zeus para estimular a boa competição entre os mortais. Cabe-nos, então, superar pela razão a Discórdia do mal, não mordendo suas provocantes maçãs envenenadas e buscando a devida justiça. E também evocar o oposto de Éris: a deusa Harmonia — a Concórdia dos romanos —, com suas bênçãos de paz nas relações e nos lares.