O sábado já amanhece primaveril. A sempre aguardada estação das flores se inicia às 3h50min do dia 23 e vai até a entrada do verão, em 22 de dezembro. É essa passagem da reclusão do inverno para o exuberante calor do verão que faz da primavera a estação mais celebrada. A própria natureza parece caprichar na intensificação dos estímulos aos nossos sentidos. Cores, sons, aromas, ardores, sabores: a vida se impõe a pleno. E a humana cultura responde a isso, e expressamos no cotidiano o apelo imperioso do existir. Tem como não comemorar essa estação?
É natural que a flor tenha se tornado símbolo da primavera. Literalmente ou não, tudo floresce nela. Pois o florescer antecede o frutificar do verão. Lembrar dessas coisas tão óbvias faz parte da ordem oferecida pela astrologia. Na voragem dos dias urbanos e dos estímulos eletrônicos, vamos perdendo a capacidade de acompanhar – e de viver – cada ciclo de tempo com suas potencialidades únicas. Ficamos alienados do cosmos, a ordem maior que nos envolve, e entramos em perigosas dissociações. Por isso importa falar de primavera e de flor, como contraponto curativo para ansiosos desatinos.
A estação florida na banda sul da Terra abre também o signo de Libra, associado à procura do outro. Libra é signo de partilhas e cortesias, de belezas e parcerias. Oferecer flores a quem prezamos sempre é um ato elegante, um código de civilidade e etiqueta que exalta os laços humanos envolvidos. No hemisfério norte, a primavera ocorre em março, no equinócio de Áries, a reforçar mais o impulso da vida como criação. Fico aqui a pensar se nossa primavera libriana seria mais romântica que a dos viventes da banda norte do planeta, com sua primavera ariana. Eis um tema para pesquisa.
Voltemos às flores, com as cores e os perfumes que destacam a humana arte do encontro. Por naturais simbologias, criamos padrões florais com flores dedicadas a temas específicos. Um buquê de rosas vermelhas para quem se corteja terá um sentido passional inequívoco. Talvez por isso, esta seja a flor mais famosa, por carregar uma potência sensual. “Sou rosa vermelha /Ai, meu bem querer / Beija-flor, sou tua rosa / E hei de amar-te até morrer”, atesta a cantiga popular. Rosas rosas, brancas e amarelas já terão outras conotações.
Floristas e decoradores – ofícios tipicamente librianos, por sinal – conhecem bem esses códigos. Sabem as flores certas para cada situação. E contam com a pureza dos lírios, a sobriedade dos cravos, o esplendor dos girassóis, o exotismo dos antúrios, a perfeição das orquídeas, a luz das margaridas e tantas outras sugestões vindas das formas e das cores de gérberas, tulipas, dálias, helicônias e muito mais, para compor misturas plenas de significados. Eis a arte floral, que se destaca com a primavera. Entre extremos do inverno e do verão, a primavera parece dizer que devemos suavizar a vida buscando a temperança, a beleza, a paz. E as flores estão aí para isso.
Como signo de ar, Libra convida a uma comunicação mais cuidadosa e refinada. É o signo da diplomacia. Em tempos de afetos esgarçados por divergências ideológicas, fico a imaginar buquês de conciliação sendo trocados por pares que, entre a frieza do inverno e o ardor do verão, sucumbiram aos extremos.
Entre sabiás no canto de amor e abelhas na dança da polinização, com gerânios desabando das floreiras e ventos amenos, a primavera chega outra vez para nos mostrar, em todos os sentidos, que a graça da vida está no agora e no aqui. Bobeira é não viver isso.