O Sol despediu-se de Aquário na quinta-feira, para encerrar, no céu de Peixes, o ano astrológico iniciado em Áries. A consciência que começou seu processo de crescimento em Áries, atiçada por impulsos de individualidade, agora se percebe muito maior, por integrar-se ao coletivo e ao social. Já não cabem posturas egoístas, mas esforços conjuntos por um bem comum. Como signo de ar, Aquário lança ideias de conexão entre todos os humanos, mas Peixes, signo de água, aprofunda esse estágio com a compaixão, emoção que nos torna receptivos aos semelhantes. Essa relação entre os dois últimos signos diz muito sobre os desafios atuais.
Há tempos, o espírito aquariano vem se irradiando em legitimações da diversidade humana. Minoritários ou não, grupos antes silenciados ou oprimidos por ideologias culturalmente impostas agora querem seu devido espaço na sociedade. Aquário mostra que, por detrás do conceito geral de humanidade, existem nuances humanas que precisam ser respeitadas, pois sustentam as identidades dos distintos indivíduos. Assim, grupos identitários se formam e se articulam como forças sociais e políticas. Em Aquário, uma sociedade perfeita não deve padronizar seus indivíduos num mesmo tom, mas permitir-se o colorido da diversidade. A vida social deve ser como uma simbólica praça em que tribos diferentes agitam bandeiras de todas as cores, mas unidas por um mesmo respeito à comum condição humana.
No entanto, essa imagem é mais fácil de ser defendida do que praticada. Chegar ao estágio de Aquário, com seus belos ideais de justiça e igualdade, não significa ter elaborado adequadamente os temas dos signos anteriores. Um indivíduo, uma sociedade ou um país podem estabelecer corretos deveres de convivência e, ainda assim, alimentarem ocultos ressentimentos. Plutão, o astro do submundo, geralmente sinaliza esses conteúdos emocionais nada nobres. A sombra de Leão, o signo oposto a Aquário, também pode sabotar a proposta democrática aquariana, quando certos grupos se acharão detentores de privilégios e de mais poder. Pela visão racional de Aquário, a lei basta para gerar o respeito mútuo. Mas a realidade mostra que não.
O recente encontro, em 2020, de Plutão e Saturno (um dos regentes de Aquário) trouxe à tona esgotos emocionais até mesmo nas nações mais desenvolvidas. O que vemos agora são sociedades conflagradas, com trincheiras de ódio separando grupos que, regredidos ao instinto de defesa, desprezam todas as possibilidades de civilidade e respeito. Pensam que a paz virá quando o oponente for destruído. E assim negam o próprio espírito aquariano.
É nesse impasse altamente destrutivo que Peixes entra em cena. Para além das mentais categorias que definem os grupos, devemos reconhecer que neles há seres humanos, complexos e falíveis, como nós. Destruí-los por serem divergentes significa validar a mesma violência que combatemos. É quando Peixes inventa a compaixão e o perdão. Porque somos todos humanos, seja qual for nosso invólucro físico ou social. Mas como ser compassivo quando o ódio é o vírus mais presente e mais perigoso?
Primeiramente, Peixes nos convida a cuidar do coração, sem o qual não se cria a empatia. Uma frase atribuída ao pisciano Albert Einstein alerta: “Guardar ressentimentos é tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra”. Pois bem, não ressoar o ódio alheio já é um movimento pela cura do mundo. Em Peixes, precisamos fazer da bondade uma prática cotidiana. Estamos no signo dos milagres. Não custa tentar.