A ansiedade domina todos os nossos contextos. Até quando dura isso? Quando virá aquilo? Onde vamos parar? Não bastasse a angustiante crise sanitária mundial, o céu atual sugere pressa pelo amanhã. Nesta semana, seis dos sete astros visíveis a olho nu da astrologia – Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Júpiter e Saturno – estiveram enfileirados em Aquário, signo das tendências vindouras. Somente o belicoso Marte não participou dessa incomum reunião. No entanto, pelo ângulo tenso de sua posição em Touro, lançou ainda mais lenha na fogueira dos urgentes movimentos. Mas não se afobe, não, que nem tudo é pra já. Aquário anuncia o futuro em ondas, como sugere seu próprio símbolo astrológico. São irradiantes e elétricas ondas de ar, o elemento do signo, associadas a ideias e ações de âmbito coletivo. Pois todo futuro começa com sementes lançadas no presente.
Para entender melhor a dinâmica dessa concentração planetária em Aquário, basta evocar a vez anterior em que isso se deu, em fevereiro de 1962, quando todos os sete astros visíveis se juntaram neste mesmo signo. Foi o embrião de tudo o que se descortinou na década de 1960, das revoluções intelectuais e sociais à contracultura, dos movimentos pelos direitos humanos aos avanços tecnológicos que culminaram com a chegada do homem à Lua, em 1969. Curiosamente, o libertário Festival de Woodstock, em 1969, se autoproclamava, no cartaz de divulgação, “uma exposição aquariana”, enquanto o musical Hair lançava a canção Aquarius, falando de mentes despertas no alvorecer de uma nova era de paz e entendimento. Essa canção incrustou no imaginário pop as associações da Era de Aquário com imagens festivas de fraterna comunhão. Ok, era um sonho hippie, mas utopias são aquarianas, enquanto vislumbres perfeitos do futuro. Só que demandam muitas lutas para se tornarem reais.
Agora, outra vez evocamos sonhos possíveis de humanismo e liberdade. Ainda é cedo para dizer que já entramos na Era de Aquário – um macrociclo de 2160 anos –, mas é certo que já vemos e escutamos seus sinais. Todas as pautas que se tornam imperativas hoje, como resgatar o lugar central do humano num universo materialista e segregador, se afinam com os rumos da nova era. A atual concentração de energias em Aquário se desdobrará no tempo, fermentando mudanças e revoluções. Outras configurações virão reforçar isso, a exemplo da entrada de Plutão no signo, em 2024. Este último ainda circula por Capricórnio, pondo término à era da acumulação gananciosa e da exploração destrutiva dos recursos naturais. Há um mundo acabando, outro querendo começar. No meio, estamos nós, aqui e agora, tomados de ansiedade.
Mas, o que é pra já? Precisamos resgatar o conceito aquariano de conexão com todos os semelhantes, para além de divergentes trincheiras ideológicas. Urge tecer uma cultura de solidariedade e paz. Dias atrás, vi na Netflix um documentário tudo a ver com isso. Trata-se de I Am – Você Tem o Poder de Mudar o Mundo. O diretor, o americano Tom Shadyac, conversa com cientistas, intelectuais e líderes religiosos sobre como sair de um mundo de acúmulo material e competição para um outro de cooperação e cuidado mútuo. O filme é um libelo contra o individualismo e a favor da empatia e da bondade. A partir dele, fui pesquisar sobre os “neurônios espelho”, que nos dota da capacidade de sentir o que o outro sente, seja alegria ou dor. A ciência prova: diminuir o sofrimento alheio provoca felicidade em nós. Eis um ótimo caminho para o futuro.