O espírito da música produzida pelos Irmãos Bertussi, cujo primeiro LP foi gravado em 1955, ainda paira pelas coxilhas da Serra gaúcha. Esse cancioneiro é venerado por gente do quilate do acordeonista Oscar dos Reis que, inclusive, gravou a música Adiós Nonino, de Astor Piazzolla, em homenagem a Honeyde Bertussi. Ou ainda, outro virtuose, Renato Borghetti, que esteve na semana passada aqui em Caxias do Sul, na celebração do centenário de Honeyde.
O guardião desse cancioneiro é Gilney Bertussi, neto de Fioravante e filho de Adelar, que, ao lado do irmão Honeyde, compuseram músicas que atravessam gerações e são responsáveis pela difusão do bugio, único ritmo genuinamente gaúcho, cujo primeiro registro fonográfico foi feito pelos Irmãos Bertussi, com a gravação de O Casamento da Doralícia, em 1956.
É sob essa perspectiva, histórica e cultural que nasce o projeto Nossa Música Entre Causos e Gaitas, conduzido pelos acordeonistas Rafael De Boni e Gilney Bertussi. A estreia ocorre nesta terça-feira (19), na Escola Municipal Aristides Rech, em Criúva. (leia mais abaixo sobre a circulação)
Talvez a verdade sobre a criação do ritmo tenha se perdido na bruma dos tempos (risos), mas o certo é que "O Casamento da Doralícia" foi o primeiro bugio registrado em disco e é feito dos Irmãos Bertussi, em 1956.
— Desde que iniciei a websérie Causos e Gaitas eu percebi que a maioria dos espectadores eram pessoas com mais de 40 anos, exceto pelos músicos jovens que, naturalmente, têm interesse pelo assunto. Nesses três anos de pesquisas e exibições, percebi que a galera mais nova precisava conhecer a música que foi produzida aqui em nosso município e que é tão bem falada por todo o Brasil, mas que aqui, de certo modo, precisávamos reascender a chama da “música serrana” — defende De Boni.
Com a gaita a tiracolo, os músicos vão realizar 15 encontros em oito escolas municipais até o fim do mês de abril. Cada encontro, explica o acordeonista, será dividido em duas etapas. A iniciativa vai alcançar alunos do Ensino Fundamental e que vivem em comunidades do interior caxiense.
— O repertório dessa primeira edição será a música d’Os Bertussi, contada em primeira pessoa pelo guardião dessa herança, o Gilney, neto de Fioravante e filho de Adelar. No primeiro dia, faremos essa exposição histórica desde a chegada do bisavô de Gilney, que veio para a região da Criúva com o intuito de ajudar a construir a Ponte dos Korff, iniciando assim a história da família na região, principalmente, em São Jorge da Mulada, local onde Fioravante pôs de pé uma fazenda, foi maestro de banda, e casou-se com a Juvelina, tendo seus filhos, entre eles Adelar e Honeyde, os Irmãos Bertussi — conta De Boni.
No segundo encontro, De Boni realiza um exercício de prática de instrumentos e também promove a gravação de novas versões de O Casamento da Doralícia. Toda essa atividade será registrada em vídeo e ficará como acervo de cada escola incluída no projeto. Além da Aristides Rech, de Criúva, participam as escolas Erico Verissimo (Vila Seca), Armindo Mário Turra e Vitório Rech Segundo (Parada Cristal), Assis Brasil (Zona Rotta, em Criúva), Professora Leonor Rosa (Desvio Rizzo), José Bonifácio (Pedancino) e Caetano Costamilan (Loreto 2ª Légua).
— A gravação terá a participação dos estudantes tocando percussão e, caso tenham alunos que toquem outros instrumentos, podem tocar também. Com o auxilio de um projetor, os alunos verão passo a passo como funciona uma gravação em formato estúdio móvel — revela De Boni.
O Nossa Música Entre Causos e Gaitas tem financiamento da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Caxias do Sul, com apoio cultural da Fundação Marcopolo.
Primeiro registro fonográfico do ritmo bugio é d'Os Irmãos Bertussi
Rafael De Boni explica o mistério do bugio – o ritmo – e não os primatas, que vivem nas florestas da Serra. Segundo a historiografia musical, o bugio é um ritmo genuinamente gaúcho, cujo primeiro registro fonográfico é dos Irmãos Bertussi, em LP de 1956.
— O bugio é o único ritmo genuinamente gaúcho, uma vez que todos os outros são originários de ritmos africanos, europeus e caribenhos. Parece uma vaneira, mas não é — diferencia De Boni.
O acordeonista reconhece que há muitas versões a respeito da criação do ritmo, incluindo a incorporação de sons produzidos por indígenas kaingang, que habitaram e (ainda habitam) a região.
— O causo mais famoso é que os gaiteiros tentavam reproduzir nos baixos das gaitas o ronco dos bugios, além do jeito característico de se dançar bugio, que é imitando também o modo como os macacos andam meio de lado, e saltando nos galhos das árvores — explica De Boni.
Entre as versões, o acordeonista diz que é possível determinar o marco inicial:
— Talvez a verdade sobre a criação do ritmo tenha se perdido na bruma dos tempos (risos), mas o certo é que O Casamento da Doralícia foi o primeiro bugio registrado em disco e é feito dos Irmãos Bertussi, em 1956.
Confira o cronograma
- EMEF Aristides Rech - Terça (19) e quarta (20), das 8h às 10h.
- EMEF Érico Veríssimo - Terça (19) e quarta (20), das 14h às 16h.
- EMEF Armindo Mário Turra - Dias 25 e 26 de março, das 8h às 10h.
- EMEF Vitorio Rech Segundo - Dia 25 de março, das 13h30min às 17h30min.
- EMEF Assis Brasil - Dias 2 e 3 de abril, das 08h às 10h.
- EMEF Professora Leonor Rosa - Dias 9 e 10 de abri, das 7h30min às 9h30min.
- EMEF José Bonifácio - Dias 16 e 17 de abril, das 8h às 10h.
- EMEF Caetano Costamilan - Dias 23 e 24 de abril, das 8h às 10h.