Se todo romance é marcado por uma trilha sonora, a união que fez nascer a família mais musical a pisar na Serra Gaúcha não seria diferente. Foi com uma valsa, escrita de próprio punho, que o então maestro da Banda da Criúva, Fioravante Bertussi, conquistou para sempre o coração de Juvelina Siqueira. A madrugada de 10 de novembro de 1920, em que Fioravante reuniu seus músicos para fazer uma serenata debaixo da janela do quarto da sua jovem namorada, que estava de aniversário, é o marco inicial da família Bertussi, imortalizada pelos irmãos Adelar e Honeyde. Neste sábado, o centenário simbólico da data será comemorado com uma live musical no Facebook.
– Nossa família tem muito carinho por essa data. Todos crescemos ouvindo essa história que, além do lado romântico, tem uma parte muito engraçada. Antes de fazer a serenata, meu avô (Fioravante, então com 18 anos) esteve na fazenda onde ela (Juvelina, com 16) morava para pedir aos peões que, à noite, eles recolhessem os cães num quartinho do galpão, pra que eles não avançassem nos músicos e nem latissem pra estragar a surpresa – diverte-se o acordeonista Gilney Bertussi, filho de Adelar.
Gilney será o anfitrião do encontro de sábado, que ainda terá os primos acordeonistas Daltro Bertussi, filho de Honeyde, e Paulo Siqueira, sobrinho de Juvelina. Também participam os violonistas Airton Lemos e João Itamar, além da banda de Gilney, Os Bertussi. Com transmissão pelo Facebook, o evento ganhou o nome de “Live Juvelina”, referência à Valsa Juvelina, como ficou conhecida a música composta por Fioravante para a futura esposa (eles se casaram em 1922). Após um recém-lançado documentário que conta a história da fazenda da família, na localidade de São Jorge da Mulada, a live é mais uma ação para perenizar a célebre trajetória dos Irmãos Bertussi, mas também para mostrar que a veia musical não começou, nem terminou com Honeyde e Adelar.
– Quem mais se destacou foram os irmãos, mas o pai deles, meu avô, contribuiu muito para a música da região. Ele sabia tocar todos os instrumentos da banda, mas o preferido era o clarinete. E eles percorriam o interior animando as festas de Lajeado Grande, Tainhas, Cazuza Ferreira, Chapada. Hoje a gente tem o privilégio de levar essa história adiante, mas também é uma responsabilidade pesada, que às vezes até assusta. Não é fácil representar esse sobrenome depois de tudo o que o Adelar e o Honeyde fizeram, porque eram dois gênios – comenta Gilney.
Fioravante (1902-1990) e Juvelina (1904-1995) foram casados por quase 70 anos, tendo passado a maior parte deles na propriedade da família em Criúva. É onde está o monumento em homenagem a Adelar e Honeyde, construído em 2008, com vista para o casarão que abriga as relíquias centenárias.
Além da dupla, o casal teve outros dois filhos, Valmor e Wilson. Nos anos 1940, ao voltar a Criúva após dois anos morando em Vacaria (onde trabalhou como músico de uma orquestra que tocava ao vivo as trilhas sonoras do cinema), o patriarca formou com os quatro filhos o conjunto musical Dois Purungos Acoierados. Após a dissolução, Honeyde foi o único a imediatamente seguir carreira musical, sendo mais tarde acompanhado por Adelar. Muito ligado aos avós, Gilney morou com eles em São Marcos na infância, e ajudou a cuidar do casal na velhice.
– Eles tinham muito orgulho da trajetória que os filhos construíram, especialmente na música, que passou para eles essa paixão que está com a gente até hoje e seguirá pelas próximas gerações – diz Gilney, cujo filho, Gabriel, de 17 anos, toca bateria e percussão.
A Live Juvelina conta com financiamento da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Caxias do Sul. A produção cultural é da Cali Gestão Cultural.
PROGRAME-SE
O quê: "Live Juvelina", em comemoração aos 100 anos da música Bertussi
Quando: sábado, às 20h
Onde assistir: Na página no Facebook Os Bertussi (facebook.com/osbertussioficial)
Quanto: acesso gratuito