Não sei vocês, mas pra mim já encheu o saco. Todo ano, nessa época, surge a mesma velha discussão:
— Quem gosta do horário de verão?
Ou:
— Quem prefere o horário normal?
Dia desses, numa mesa de bar, o tema central voltou à tona. Pacientemente, ouvi os argumentos a favor e contrários. E são muitos de cada lado, todos convincentes à sua maneira, pontuados por pesquisas citadas a esmo, tentando justificar a economia de energia no caso de sim para o horário de verão, ou ceifando pela raiz as mesmas estatísticas, apenas olhando os números por um viés diferente aos que tentam impor o não para o horário de verão. No meio desse fogo cruzado, perdi o apetite e a sede. Desconversei, dei uma desculpa qualquer e caí fora.
Já em casa, enquanto organizava algo pra comer, liguei a televisão. No canal de esportes 24h o assunto do momento era o Neymar. Não pela bola que joga (ou poderia), mas por ter faltado ao primeiro treino da Seleção Brasileira. O Neymar só não apanhou mais dos comentaristas porque o zagueiro Marquinhos também perdeu o treino pelo mesmo motivo: atraso do voo de Paris pra Turim. Cansado de perder tempo na vida, desliguei a televisão e jantei, enfim, em paz.
De pernas pro ar, noite adentro e saciado, tomei em mãos pra ler A Milésima Segunda Noite na Avenida Paulista, do jornalista Joel Silveira. Entre reportagens, perfis e entrevistas, ele escreve sobre o dia em que o seu patrão, o Assis Chateaubriand o envia pra ser correspondente na Segunda Guerra Mundial. Chatô, segundo relato do Silveira, disse:
— Vá para a guerra, seu Silveira, mas, por favor, não me morra! Não me morra, seu Silveira! Repórter não é para morrer. Repórter manda notícias.
Aos 26 anos, o repórter, então o correspondente mais jovem a reportar a guerra, cumpriu seu papel durante 10 meses, a partir do front italiano. Silveira não morreu na guerra, mas relatou tudo o que viu, enquanto acompanhava a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Cerca de um ano antes de sua morte, em 15 de agosto de 2007, o repórter concedeu uma entrevista à revista eletrônica Aventuras na História, recordando, inclusive, que estava em Milão quando penduraram os cadáveres de Mussolini e sua amante em praça pública:
— Eu cheguei no momento exato, quando estavam começando a dependurá-los pelas pernas. Quando cheguei à Itália, havia 60 milhões de fascistas. Naquele dia, havia 60 milhões de antifascistas. Muitos dos mesmos que haviam aplaudido Mussolini estavam agora cuspindo no cadáver dele, até que os ingleses resolveram acabar com aquela situação. Retiraram os corpos e os enterraram.
A guerra não é pra amadores. E pra entender melhor como é que o mundo foi descarrilhar da Primeira para a Segunda Guerra, sugiro que assistam a Nada de Novo no Front, filme alemão dirigido por Edward Berger, baseado em livro homônimo, escrito por Erich Maria Remarque. Está tudo lá. A juventude sempre servindo de instrumento pra algum tirano ávido por mais poder.
Ah, e me acordem só quando os tanques do Exército estiverem desfilando pela Sinimbu.