Pioneira na fabricação de leite tipo A no Rio Grande do Sul, a Fazenda Trevisan, de Farroupilha, inaugura um novo ciclo com a produção de A2A2, obtido de vacas apenas com esse genótipo. Foram oito anos de estudos e seleção genética para alcançar o rebanho 100% A2A2. A grande vantagem é um produto de fácil digestão para pessoas que sentem algum tipo de incômodo ao ingerir leite.
— A gente espera conseguir atingir parte da população que deixou de consumir lácteos por questão de ter desconforto. O nosso objetivo maior é agregar aquele consumidor que não consome mais lácteos, e não dividir o mercado de laticínios. É um produto muito bom e que pode trazer mais consumidores — diz Christiano Trevisan, um dos diretores da fazenda e filho dos proprietários, Osmar e Carmen Trevisan.
Com o investimento apenas em vacas A2A2, as demais foram vendidas. Houve uma pequena perda de produção, já que os animais A1A1 tem maior rendimento, mas isso não é um problema para a gestão da fazenda que aposta em qualidade ao invés de quantidade.
— O que a gente busca não é ter vacas com a maior produção de leite possível, mas sim com a melhor produção. Por isso que a gente busca leite de vacas A2A2 — frisa Christiano.
A novidade foi apresentada durante evento nesta quarta-feira na propriedade, localizada na Vila Jansen. Segundo Darlan Palharini, secretário-executivo do Sindilat (Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados), presente na cerimônia, a Trevisan é a primeira fazenda do Estado a produzir, em escala industrial, produtos A2A2:
— Sempre fui um entusiasta desse tipo de leite e essa tecnologia é muito importante para o Rio Grande do Sul.
A Fazenda Trevisan tem, atualmente, 700 vacas, sendo 350 em produção. O volume produzido por dia é de 12,5 mil litros de leite. Além de leite, produz creme de leite e iogurtes, todos A2A2.
Entendendo melhor
Entre as proteínas presentes no leite, estão as beta-caseínas que possuem as variantes A1 e A2. O leite produzido por vacas de genótipo A2A2 tem apenas beta-caseínas do tipo A2 enquanto o leite de vacas com genótipos A1A2 e A1A1 tem também beta-caseína do tipo A1.
A beta-caseína A1 favorece a formação de betacasomorfina-7 (BCM-7) durante a digestão, o que pode causar desconforto para algumas pessoas. Na digestão da A2, a BCM-7 é inexistente ou quase nula. Ou seja, o leite A2A é uma alternativa para quem é sensível à betacasomorfina-7.
— Para algumas pessoas isso dá bastante diferença. Para as pessoas que não têm nenhum desconforto intestinal isso não vai alterar. Gostaria de deixar isso bem claro — destaca Christiano.
— Mas não tem nada a ver com a lactose. As pessoas que têm intolerância à lactose seguem com o consumo de produtos sem lactose — acrescenta Jean Carlos Trevisan, irmão de Christiano.
Ampliação em 2024
A partir de janeiro, a fazenda estará em obras. A família projeta ampliação da área para a possibilidade de 650 animais em lactação. O aumento no rebanho será gradativo e deve levar de três a quatro anos para alcançar esse número. O crescimento se dará aos poucos porque pais e filhos fazem questão de ter o controle da produção do começo ao fim.
— A gente procura não adquirir animais. A gente tem como objetivo fazer toda a parte de criação interna, criar os bezerrinhos aqui até virarem vacas — explica Jean.
Rebanho holandês
A Trevisan exerce produção leiteira há mais de 10 anos e desde 2018 produz e envasa leite tipo A. Os estudos para a produção A2A2 começaram há cerca de oito anos para agregar valor à matéria-prima e não ficar dependente das oscilações das indústrias. O rebanho é formado 100% por vacas da raça holandesa.
Conforme o médico veterinário e gestor na fazenda, Átila Cado Soares, as vacas em produção têm média de 43,5 litros.
— O mercado demanda por um produto diferenciado, de alta qualidade, seguro, que promova o bem-estar animal e que seja ambientalmente sustentável para oferecer para seus clientes e consumidores, e produzido aqui dentro do RS. Todos os nossos produtos são produzidos com leite tipo A e têm o plus de ser também feitos exclusivamente com leite A2A2 — destaca.