Reconduzido ao cargo de vice-presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) em agosto, Oliver Viezzer tem a missão de seguir levando as demandas da Serra para o debate nacional. Em um país continental, a presença como vice de Renato de Souza Correia é fundamental para assinalar as necessidades locais, que são diferentes das de outras regiões.
Nesta entrevista, Viezzer, que já foi presidente do Sinduscon Caxias e é membro do conselho superior da entidade, fala dessas demandas, avalia o cenário atual da construção civil neste primeiro ano de governo Lula e as expectativas para o segundo semestre. Também recorda o período de pandemia e reflete sobre a superação da crise sanitária mundial. Confira:
O que representa continuar no cargo de vice da CBIC?
É importante para o Sinduscon Caxias estar representado também na CBIC, porque a gente acaba tendo voz na Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil, passando nossas pautas, nossas demandas daqui para lá e, da mesma forma, trazendo para a nossa região, para o Sinduscon, para as empresas associadas, a diretoria da CBIC para o setor.
Quais são as demandas do setor específicas da Serra?
O Brasil é muito grande, temos realidades muito distintas em relação a diversas situações. Por exemplo, no nosso mercado a gente trabalha forte com SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), com financiamento de média e alta renda, algumas empresas com financiamento próprio. Já no norte do país, no Nordeste, o forte lá é o Minha Casa Minha Vida. Então, em algumas reuniões que a gente tem na Comissão da Indústria Imobiliária, tem os diretores que representam as empresas do Norte, Nordeste, e a pauta fica quase que exclusivamente voltada aos interesses das empresas que trabalham Minha Casa Minha Vida. Aí, algumas questões relativas a financiamento de SBPE acabam não sendo discutidas. Então, é importante a gente estar lá também presente. Além disso, na época que a gente estava discutindo norma de desempenho, e a gente ainda continua discutindo esse tema, nós temos um clima diferente. É uma zona climática com realidade diferente, gradientes térmicos diferentes, então também precisava um olhar um pouco mais diferenciado para a nossa região.
Quais as suas metas no cargo? O que pretende dar continuidade ou o que quer iniciar?
Continuar com o canal de comunicação dos dois lados. A gente está muito alinhado com a presidente Maria Inês (Menegotto de Campos), do Sinduscon, e a gente reforça as pautas que estão sendo discutidas aqui quando existem interferências nacionais e também levamos para a Câmara. Da mesma forma, quando há algumas demandas do setor da construção civil, passamos para os nossos representantes legislativos daqui. Temos hoje dois deputados e esse canal é muito importante. A CBIC tem atuação nacional e os contatos com os representantes legislativos são feitos nas suas bases. Aqui a gente já teve algumas reuniões com a deputada Denise Pessôa, conversamos também com o deputado Maurício Marcon sobre questões específicas, pautas, por exemplo, sobre o uso do FGTS na construção civil, projetos de lei que estão sendo votados, qual é o entendimento da CBIC, e a gente passa essas notas técnicas, essas orientações aos deputados locais.
A gente tem uma capacidade de superação. É impressionante. O brasileiro tem muito disso, de buscar alternativas.
OLIVER VIEZZER
Vice-presidente da CBIC
Falando em política, qual é a sua avaliação do mercado da construção civil no país neste primeiro ano de novo governo?
Tivemos recentemente umas alterações significativas no programa Minha Casa Minha Vida. Acredito que neste segmento econômico de primeiro imóvel vamos ter um novo movimento de lançamentos que estavam totalmente paralisados. Poucas empresas estavam lançando nesse segmento aqui na região, no Estado todo. Agora, com esse novo fôlego, esses novos tetos, novas condições, esse mercado se reabre. Estava praticamente inoperante. Esse é um ponto bastante positivo que a gente vai ter agora nesse segundo semestre. O primeiro semestre foi bem difícil. Outro cenário que a gente está começando também a enxergar com uma luz do final do túnel é o mercado de SBPE, financiado com recurso da poupança, que também está difícil devido ao juro alto. Com esses movimentos de redução de juros, de taxa Selic, a gente começa já enxergar uma possibilidade de melhoria no médio prazo.
Em 2020, você concedeu uma entrevista para a série As Crises Que Venci. Foi no primeiro ano de pandemia, um momento muito difícil. Passada a crise sanitária que impactou na economia, qual é a sua avaliação? Como é olhar para trás e ver que venceu mais uma crise?
O nosso setor venceu e venceu muito bem essa crise da pandemia. Acho que a gente saiu muito bem dela, nosso setor da construção civil foi responsável por muitos empregos, manutenção de muitos postos de trabalho. Teve crescimento, inclusive, nesses anos, então, foi surpreendente. E isso muito em função do diálogo que houve com a da CBIC e outras entidades, com Caixa Federal, com o governo buscando soluções que permitissem a manutenção dos negócios, a manutenção dos postos de trabalho. Foi fundamental a atuação das nossas entidades tanto nacionais quanto locais. O Sinduscon foi fundamental nas questões de relativas aos cuidados com os trabalhadores. A região teve uma atuação exemplar. A gente tem uma capacidade de superação. É impressionante, olhando para trás, o que a gente fez, né? Como sociedade, como setor, e eu acho que o brasileiro tem muito disso, de buscar alternativas, de se superar, porque a gente está sempre vivendo pequenas crises. Essa foi gigante, mas as pequenas crises a gente têm em todo momento. Se a gente não tivesse os canais abertos para diálogo, certamente teria sido muito mais difícil.
Foi a crise mais difícil?
Econômica, não, mas de medo eu diria que sim. Porque o sentimento, o pavor que a gente via nas empresas, nos canteiros, era grande, principalmente no período inicial quando ninguém sabia o que poderia acontecer. Então, o medo foi muito grande. Foi diferente. As outras eram por motivos econômicos. Essa, não. Era um motivo de vida mesmo. Depois, a gente foi vendo que com certos cuidados poderia minimizar os riscos e fomos tomando conhecimento de como lidar com a situação, e os medos foram reduzindo. A gente também aprendeu muita coisa nova, trabalho remoto com a assinatura de contratos online. Também tem legado. Grandes crises como essa também geram grandes legados e acho que a gente também aprendeu com isso, e avançamos em alguns quesitos, principalmente no que diz respeito ao digital, de usar o digital ao nosso favor.