Neste fim de semana apresento um pouco do vasto pensamento, construção, reconstrução e visibilidade das jornalistas caxienses Patrícia Parenza, virginiana, 52 anos (comemorados sexta-feira) e Patrícia Pontalti, geminiana, 48. As gurias iniciaram suas promissoras carreiras em Caxias do Sul. Parenza como âncora do Jornal do Almoço da RBS TV Caxias e Pontalti engendrou seu trabalho nas mais diversas editorias do Pioneiro antes de ingressar no Zero Hora, hoje são colunistas da Revista Donna, no mesmo jornal. Depois, juntas com o projeto “As Patrícias” mergulharam com intensidade no universo da moda e hoje provocam uma reinvenção total no que tange o comportamento da mulher contemporânea. Maduras e atuantes, as Patrícias, Parenza, filha de Germano Parenza (in memoriam) e Olides Parenza, e Pontalti, filha de Raul Pontalti (in memoriam) e Ivaldina Mari, radicadas em Porto Alegre, são mães de Lorenzo Parenza Bitar, 14, e Clara Pontalti da Cunha, oito. Na quinta-feira, dia 15, participaram aqui na terrinha de um projeto filantrópico e conversaram com a coluna.
Qual sua lembrança mais remota da infância e que sensação te remete a essa época?
PONTALTI: Vivi minha infância cercada de muitos primos e tios, em uma família grande, barulhenta, afetuosa. A cozinha da minha nonna Gema Peteffi Mari era o núcleo desse caos cheio de amor, onde tudo acontecia, tudo começava, tudo apaziguava. Quando cozinho, coisa que adoro fazer, surgem minhas lembranças mais queridas. A comida, os sabores, os aromas são lotadinhos das melhores memórias.
PARENZA: Os almoços de colônia com os tios da minha mãe cantando em italiano depois de comer, era uma diversão, sensação de pertencimento.
Uma palavra-chave:
PONTALTI: emoção, sou uma emocionada em tudo que faço.
PARENZA: lucidez.
Como se deu a transição do trabalho que exercem nos mais diversos editoriais jornalísticos para o projeto "As Patrícias"?
PONTALTI: Éramos amigas há anos e aproveitamos essa relação de cumplicidade e harmonia para criar uma síntese de tudo que a gente já realizava no jornalismo, mas de um jeitinho empreendedor. Pesquisávamos, criávamos, produzíamos, nos desafiávamos, nos reinventávamos, pensando em traduzir a moda, o estilo, o feminino de uma forma singular e inventiva há mais de 15 anos.
PARENZA: Depois de alguns anos frequentando as semanas de moda juntas e com o reconhecimento nacional, decidimos fazer disso um negócio, uma empresa de geração de conteúdo e eventos, no início só de moda, hoje voltado ao comportamento da mulher madura.
O mundo da moda ficou datado?
PONTALTI: A moda sempre é datada porque reflete um momento, os desejos de uma época, os movimentos de um período específico. E acho isso maravilhoso, observar essa construção de imagens que traduzem tanto sobre a gente em cada recorte de tempo. O que mudou mesmo foi a minha relação com a moda, já que me sinto cada vez mais observadora atenta do que uma usuária compulsiva.
PARENZA: Acho que o mundo da moda não tem mais a relevância que tinha. Hoje a música dita muito mais moda que a própria moda. Vivemos a era da personalização do estilo e isso atropelou a moda como um sistema de tendências a serem seguidas a cada seis meses.
Estimular ideais para o público que as acompanha na Revista Donna (ZH) e nas redes sociais é tarefa fluida e natural?
PONTALTI: Sem dúvida, principalmente nas redes sociais, onde faço um trabalho que adoro, muito pessoal, no qual traduzo as minhas próprias descobertas, meus desaprendizados, meus quereres durante este processo desafiador que é o amadurecer, o envelhecer. Estamos nos construindo mulheres diferentes, mais livres, mais donas de si, mais conscientes de nossos talentos a cada dia. E falo sobre isso, como se fosse um diário compartilhado. Flui muito naturalmente.
PARENZA: Totalmente natural, nas redes então é o meu dia a dia, meus dilemas e alegrias. A vida de uma mulher de 50 e poucos anos que é inquieta e atenta.
Como se conectam a moda e a maturidade para a mulher atual?
PONTALTI: Acho que a moda chega como uma ferramenta de autoestima, que deixa de provocar qualquer dor e passa a dar prazer, a nos fazer mais felizes. Na maturidade, a gente sabe dizer não para tolices e sim para o que faz sentido, o que traduz quem somos e quem queremos ser, inclusive no vestir. Acho ótimo selecionar na moda o que combina com cada uma de nós, mas sem nos preocupar se estamos na moda. É o florescer total do estilo.
PARENZA: Acho que na maturidade a moda deixa de ter tanta importância, né? A gente tem mais certezas do que gosta, como gosta e não dá mais atenção a opinião alheia.
Casamento, filhos, trabalho e popularidade são atividades que vocês conciliam com dinamismo. Como é harmonizar estes universos?
PONTALTI: Pirando como todas. Faço tudo sozinha em casa, não tenho babá, cozinho todos os dias, trabalho, faço exercício, me cuido, me relaciono com meu marido, me divirto, do jeito possível, tentando me livrar de cobranças de perfeição, de ser ótima em tudo, de conseguir fazer tudo todo dia. Sou uma mulher possível e tento me entender assim, errando, cansando, surtando, rindo, sendo feliz como eu posso, do meu jeito, sem comparações. A gente precisa encontrar a nossa fórmula, né? A minha é tentar ser gentil comigo todo dia, compreendendo meus limites.
PARENZA: Dá trabalho. É uma agenda muito bem administrada porque tem o meu filho, os filhos do meu namorado, a agenda dos exs, a agenda dos filhos e as nossas. Tudo tem que viver em harmonia e às vezes não é tão simples.
Gostaria de ter sabido antes…
PONTALTI: Que exercício físico faz a vida se tornar mais fácil, que nós mulheres somos maravilhosas cada uma do nosso jeito e que não preciso atender a expectativa de ninguém além da minha.
PARENZA: Que posso tudo o que eu quiser.
Como vocês analisam seus estilos, e a evolução deles?
PONTALTI: Gosto muito de misturar referências, estilos, criando combinações menos usuais, que trazem elementos que tem tudo a ver comigo, como alfaiataria, um toque esportivo, um quezinho roqueiro. Hoje identifico isso com muita facilidade, conseguindo saber, já em um primeiro olhar, o que realmente tem a ver comigo, que me traduz, que faz sentido para mim.
PARENZA: Eu continuo com o mesmo estilo. Sempre fui meio extravagante, porém elegante, dramática e minimalista ao mesmo tempo, acho que me mantenho nessa linha.
Quais os desafios em "envelhecer" na sociedade atual?
PONTALTI: Acho que o principal desafio começa em nós mesmas, em nos libertarmos dos padrões tolos que nos impuseram durante uma vida inteira dizendo que uma mulher deixa de ser interessante, produtiva, criativa, bela, sexy depois de uma certa idade. Mentira. A idade não nos define em nada. Quando conseguimos compreender isso de verdade, vem o desafio de vencer o etarismo para fora de casa, mostrando que somos pertinentes, capazes, relevantes. E somos. Estamos sempre criando novas frentes para seguir como mulheres incríveis que nunca vamos deixar de ser, surpreendendo todo dia. Fácil não é, mas é maravilhoso.
PARENZA: São muitos, principalmente para as mulheres. Vivemos no país onde o corpo feminino é considerado um "capital", quanto mais jovem e belo mais valor tem. E isso precisa mudar, precisamos dissociar a beleza da juventude. Abrir espaço para o nosso segundo e terceiro ato. O etarismo é muito forte, parece que porque envelhecemos perdemos valor, estamos vivendo um grande movimento que quer mudar isso. Leva tempo, mas estamos abrindo espaço para as novas gerações.
Qual é a responsabilidade e contribuição como influenciadoras?
PONTALTI: Sem qualquer dúvida, é mostrar para as mulheres como elas podem ser felizes sendo elas mesmas, que não existe um padrão para nada, nem para o nosso corpo, nem para o nosso sucesso, nem para os nossos relacionamentos, nem para a nossa maternidade. Temos que nos descobrir, compreender, respeitar, aprimorar na nossa verdade, da forma como somos, no ambiente que vivemos, sem comparações, cobranças ou culpas. Todo mulher é um mulherão, é isso!
PARENZA: Temos muita responsabilidade, extrema responsabilidade. Sobre o que falamos, o que vendemos, temos que ter responsabilidade social, ter noção do nosso espaço de privilégio em um país que vive um abismo social. Acho que um conteúdo empático e verdadeiro é o mínimo a ser feito.
Discorra sobre o belo…
PONTALTI: O belo é o que te emociona, o que te faz sentir feliz, o que te provoca, o que te tira do prumo, o que te conquista, o que te faz sorrir.
PARENZA: O belo é íntimo e pessoal.
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Patrícia Pontalti:
Três valores fundamentais: Admiro inteligência, ética e sinceridade.
Três momentos em que sua profissão te trouxe alegrias: Meu começo de jornalismo tão entusiasmado e de tanto aprendizado, a minha parceria com a Parenza que rendeu e sempre rende experiências espetaculares e meu trabalho no Instagram escrevendo com tanta emoção e tão abertamente para as mulheres.
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Patrícia Parenza:
Três valores fundamentais: Admiro empatia, honestidade e justiça.
Três momentos em que sua profissão te trouxe alegrias: Me tornar amiga íntima do Ronaldo Fraga. Retratar a moda brasileira no início dos anos 2000 em uma série documental para o GNT. Receber centenas de mensagens de mulheres pelo Instagram falando que as ajudo diariamente.