A noção de família tem se expandido nestes tempos de ricas e variadas possibilidades amorosas. Conservadores olham com estranhamento para qualquer modelo diverso da tradicional e arcaica concepção: pai, mãe e filhos. Gostemos ou não, esses novos ares se apresentam bastante saudáveis, por assim dizer. As pessoas estão formando núcleos de convivência até há pouco recebidos com desconfiança. Percebe-se muita resistência em aceitar padrões inéditos, ainda mais se eles escapam da noção heterossexual de comportamento. Creio, como busca de sabedoria, ser preciso acolher e assimilar com generosidade o que a vida coloca à nossa frente. Lembrando: normas são convenções e podem ser reformuladas. Aliás, devem, sob o risco de fazermos parte de um grupo social estanque, não admitindo a mobilidade. Temos dificuldade em romper padrões sedimentados. É mais fácil repetir a inaugurar um amplo olhar, pois isso exige o revisionismo de conceitos classificados como universais. Num viés histórico, encontramos culturas que experimentaram maneiras múltiplas de se relacionar e nos deixaram um legado de tolerância e coragem. A despeito de toda a evolução acelerada pelo avanço do universo digital, alguns permanecem com o pensamento na idade medieval. Porém, já percebemos rupturas e uma admirável pluralidade em relação a esse tema.
Há de se considerar: a regra vigente há tanto nem sempre simbolizou o melhor exemplo. Somos seres inclinados ao mesquinho, atrelados a interesses na manutenção do status quo. Devemos ultrapassar essa percepção focando na autenticidade dos sentimentos, independente de como eles se expressam. Um homem e uma mulher, duas mulheres, dois homens... conta mesmo é o projeto de construção do afeto ao lado de alguém pelo qual nutrimos respeito e admiração. Códigos morais e religiosos rígidos tendem a atrasar a compreensão dessa evidência. Claro, é cômodo seguir sem indagar a estrutura dominante. Só que essa visão reducionista costuma gerar infelicidade. É um privilégio viver numa época de “estremecimento” nas ordenações sociais. Todo rompimento necessitará ser acomodado dentro de nós para, somente então, encontrar respaldo. E, se possível, disseminação.
Meus preconceitos também se tornam manifestos neste campo. Entretanto, esforço-me em vergá-los diante de um mundo onde as certezas e convicções de outrora são questionadas constantemente. É mais inteligente seguir o fluxo a se aferrar a velhas ideias que já não se acomodam no espírito dessa realidade cambiante. Ao fim e ao cabo, vale a máxima: importa é ser feliz. Se você está satisfeito reproduzindo uma “conduta padrão”, tudo certo. Mas sua tarefa será a de entender que agora há uma outra perspectiva, desdobrando-se em um leque quase infinito. Abrace este desafio.