Uma afirmação recorrente nesses tempos de novos códigos e posturas é esta: sob hipótese alguma deve-se desistir. É sinônimo inequívoco de fracasso. Consideramos imperdoável a ideia de parar no meio do caminho, sejam quais forem as razões. Rechaço tal conceito. A ditadura do sucesso, o incensado mantra do “você é capaz, basta se esforçar” tem tornado gente infeliz, angustiada. Se não deu certo, a culpa é sua, martelam com insistência. O contraponto de tal imposição está no aumento significativo do uso de medicações para controlar a ansiedade. Ao observar com atenção meus comportamentos, percebo também ter cedido a essa armadilha. Quando recebemos carícias na forma de elogios, sentimo-nos obrigados a seguir nesta trilha, a despeito de provocar insatisfação. Não é só na nossa época, somos invariavelmente regidos pelas “leis” da inclusão. O resultado é a obediência às regras sociais como um todo. Muitos passam décadas em cega subserviência, deixando de vislumbrar outras possibilidades. É um paradoxo, em dias de liberdade de expressão, estarmos acorrentados a uma visão que nos impede determinados revisionismos.
Convivo com pessoas que detestam seu trabalho. E isso fica manifesto na maneira como encaram a segunda-feira: é a volta à tortura, atenuada se o salário for compensador. O mesmo se torna claro em relações amorosas fraturadas, mantidas pelo hábito ou o medo dos efeitos da ruptura sobre os filhos e no círculo familiar como um todo. Dou-me como exemplo. Desde o início da juventude tive um amigo inseparável: fazia partilhas diárias com ele. Foram anos de absoluta cumplicidade. Porém, por circunstâncias diversas, fomos nos afastando. Recusei-me a aceitar o fato, persistindo num processo de autoengano. Precisei de longas e dolorosas reflexões para descobrir que o melhor seria isso: constatar o fim de algo vital, mas agora mantido unilateralmente. Ao assumir como verdade, senti um peso imenso sendo tirado dos meus ombros. Podemos adotar semelhante postura em várias áreas e reconhecer: o mais saudável para nós é decretar o término, se está nos consumindo no campo emocional. Acreditamos, erroneamente, ser uma postura reservada aos jovens, tomados pelo ímpeto de trilhar o desconhecido, deixando de lado o que os incomoda. Na verdade, essa percepção se mantém viva enquanto nos predispusermos a fazer um escrutínio das ações e dos sentimentos.
Portanto, leitor e leitora amigos, está na hora de rever o que é central na existência e ter a coragem de renunciar, sempre que for o caso. Apagá-los com delicadeza. E, acima de tudo, absorver a ideia de que mudar o roteiro tem um valor de sobrevivência. Comece do zero quantas vezes forem necessárias. Afinal, a grandeza está na renovação, não no acomodamento das almas cansadas.