Você já deve ter conversado com seus avós ou pais sobre os códigos de comportamento envolvendo os casais em sua juventude. Um abismo os distancia da realidade de hoje. Antigamente as relações eram vigiadas, não impedindo, a bem da verdade, algumas deliciosas transgressões. Mas, invariavelmente, havia um parente para policiar. Os namoros eram longos, longuíssimos; continuavam por um bom tempo depois do noivado para, só então, cogitarem a possibilidade de morar juntos. O que se constituiria num período plenamente suficiente para se conhecerem na maioria das vezes só servia para sedimentar casamentos regidos por acordos ou interesses familiares. Sinceramente, desconheço grandes vantagens desse modelo. A coabitação é difícil e um mínimo de contato prévio com as idiossincrasias alheias se faz necessário. Permanecer ao lado de alguém é uma arte e requer paciência, perseverança e vontade de investir em quem escolhemos para dividir a vida. Nem sempre nos revelamos um exemplo de racionalidade, deixando os impulsos ditarem a maneira de agir. Sobretudo no âmbito doméstico, quando a intimidade determina um jeito, digamos, relaxado de existir. O cuidado e o respeito são fundamentais para essas parcerias funcionarem. E para evitar sermos “enganados”, o melhor é aventurar-se sob o mesmo teto antes de tomar uma decisão tão relevante.
Pois é o que a rede BBC mostrou através de um exaustivo estudo enfocando o modo como os jovens firmam seus vínculos. Diversos tomam essa resolução por questões financeiras e de conveniência, mas o fato é que eles estão indo morar juntos após breve convivência. Se não deu certo, sem problema, aprontam a mala e voltam à solteirice. Novas oportunidades surgem a cada dia, principalmente para aqueles que buscam na internet a ampliação do campo afetivo. Acho isso ótimo. Dá uma boa descomplicada e a palavra amor se torna saudavelmente plural. Fujo do saudosismo de uma época de amarras tão limitadoras da liberdade humana. Digo para meus amigos: o fato de se estabelecer uma união por décadas é admirável, mas há os que aprendem a se detestar pacífica e cordialmente. Ponderam: há a diminuição do patrimônio em caso de separação, os filhos, netos, etc. Então, deixa assim. Geralmente um caso extraconjugal acaba atenuando a frustração. Exagero? Parece que não, do contrário haveria menos reclamações e hipocrisia neste quesito.
Realizar esse tipo de experiência, sem a expectativa de ser algo definitivo, parece-me uma atitude louvável. Tudo é mais fluido, tentativas que podem se direcionar para o sucesso ou o fracasso. Eu, particularmente, simpatizo com a ideia de ter ao meu lado a mesma pessoa até o fim dos meus dias. Mas é uma loteria e o prêmio não é partilhado com todos. Agora surpreendemo-nos executando apostas calcadas na autonomia, longe das convenções sociais de outrora. Uma ruptura muito bem-vinda.