As nuvens plúmbeas do céu anunciavam uma chuva que, afinal, não veio. Alguns jasmins tardios insistiam em perfumar a tarde. O silêncio parecia formar uma espessa parede que nos protegia dos acontecimentos do mundo. Em espaços intervalados de tempo, os cães olhavam para o horizonte e latiam para o que não éramos capazes de ver. Eu, minha irmã e a querida amiga Rache nos entregávamos à perfeição do momento. O passado não era incômodo e nos afastamos da ansiedade do futuro. Conversas ligeiras preenchiam o dia. Súbito, um de nós lembrou: e se fizéssemos os deliciosos pãezinhos de nata da dona Vera? Num instante o torpor do corpo nos abandonou e lá fomos para a cozinha. Diante da janela aberta, folhagens coloridas faziam o cenário perfeito para o que se revelava igualmente perfeito: o exercício de nutrir o corpo quando a alma se encontra aquietada, longe da sofreguidão dos desejos que aniquilam a serenidade.
Opinião
Gilmar Marcílio: a vida, enfim
As nuvens plúmbeas do céu anunciavam uma chuva
Gilmar Marcílio
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