Na abertura de um dos primeiros filmes do diretor francês Luc Besson, Subway, lê-se estas três frases: Ser é fazer (Sócrates); fazer é ser (Sartre); seja e faça, faça e seja (Sinatra). Vinte e cinco séculos separam a primeira da última. Mas todas dizem, rigorosamente, a mesma coisa. Somos seres de movimento, de ação. A inércia é maléfica para o corpo e a mente. Interferir no mundo, relacionar-se com as pessoas, alterar as paisagens – eis o fundamento do humano. Admiro profundamente os seres que se inclinam à meditação, religiosos de qualquer ordem que abdicam das tarefas mundanas e se recolhem em si mesmos. Em proporções miúdas e intervaladas é isso que eu também faço, para manter a sanidade e restaurar dentro de mim o sentido da palavra sentido. Resisto à ideia que nos eleva à condição de uma raça predestinada, superior. Somos animais autoconscientes, que aspiram ser imortais. Nossa sina é a mesma desse precioso órgão, o coração: não parar nunca de bombear sangue, sob a iminência de aniquilar o organismo que o hospeda. Pense nas pessoas com depressão. Elas estão encapsuladas numa espécie de escafandro que as impele a respirar somente a reserva contida em seus pulmões. Abrir a garganta as assusta. Abrir a porta as assusta. Elegem o sono como um desejado estado de permanência.
Leia também
Gilmar Marcílio: nem parece!
Francisco Michielin: o rap da corrupção
Ciro Fabres: passagem de bastão
Opinião
Gilmar Marcílio: seja
"Como viver sem o sol, o vento, a força que emana dos dias claros, vertiginosamente azuis?"
Gilmar Marcílio
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project
- Mais sobre: