"Você já tem essa idade? Nossa, nem parece! Eu te daria, tranquilamente, uns dez anos a menos." Quem de nós já não disse isso a um amigo ou amiga, acreditando ser mais do que um elogio: a certeza de deixá-los envaidecidos. Demonstrar menos do que está escrito na certidão de nascimento passou a encher de orgulho o destinatário de tal deferência. Ter cinquenta anos e apresentar no rosto essas cinco décadas tornou-se algo a ser evitado. Se der para esconder ou disfarçar, perfeito. Cirurgias plásticas nem sempre dão conta disso, no entanto. Muitos passam a ser criaturas atemporais. Parecem estar entre os trinta ou setenta, um verdadeiro horror! O fato mais relevante, o de a quantas anda a nossa estética interior, raramente vem à tona. Se a aparência impressionar, ótimo. Afinal, tudo o que queremos é convencer. Pouco, né? O bem-estar e a renovação do gosto de existir, quando a sombra da velhice se insinua entre as horas, deveria estar na ordem primeira dos assuntos a nos preocupar. Não lembro da minha avó ou dos meus pais tocarem uma vez sequer nesse assunto. Eles eram bem mais fiéis aos ciclos juventude/maturidade/senectude do que nós. Dá muito trabalho (geralmente fadado ao fracasso) retocar uma imagem que, a despeito do resultado, tende invariavelmente ao declínio. A ideia da decrepitude não agrada a ninguém. Se der para postergar com sutileza, ok. Há um ponto em que é preciso simplesmente aceitar.
Opinião
Gilmar Marcílio: nem parece!
Dá muito trabalho retocar uma imagem que, a despeito dos retoques, tende ao declínio
Gilmar Marcílio
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