Qual o tamanho, a representatividade do pensamento do vereador Sandro Fantinel expresso na sessão de terça-feira? Qual a adesão que havia e, quem sabe, ainda há àquele desastrado pensamento? Fantinel sentiu-se à vontade para sugerir: “não contratem mais aquela gente lá de cima”, ou ainda, identificou que “a única cultura que eles (baianos) têm é viver na praia tocando tambor.” Quantas pessoas pensam como ele?
Ao se manifestar em discurso na Assembleia sobre o pronunciamento de Fantinel, o deputado estadual Pepe Vargas (PT) afirmou:
– O pensamento que ele expressou não é um pensamento majoritário mas é um pensamento que está presente em determinados setores da população.
Se é majoritário ou não, é difícil dimensionar com exatidão. Tomara não seja, porque é preciso considerar microrregiões ou setores, contextos em que, por cultura, geografia e atividade, pode haver determinada concentração de linhas de pensamento. Mas certamente não é um número pequeno de pessoas que pensa como ele. Fantinel foi eleito vereador com 1.756 votos em 2020. Concorreu à Assembleia em 2022 e obteve 7.115 votos. Sua linha de pensamento representa essas pessoas que votaram nele.
Fantinel, primeiro, referiu-se que não foi bem entendido. Foi na linha do “eu falei, mas não quis dizer o que disse.” Depois, pediu desculpas e afirmou que falou o que disse devido a um “lapso mental”. Mas Fantinel costuma acreditar no que fala, e foi o que se deu na terça-feira, quando discorreu sobre o assunto que escolheu para falar como se estivesse entre um grupo de pessoas com afinidade ideológica em um ambiente privado ou em uma mesa de bar. Falou espontaneamente, não foi forçado a nada, com aquela naturalidade que deixa vir à tona as compreensões mais primitivas. Só que ele estava na tribuna do Parlamento da segunda maior cidade do Estado.
Falas como as de Fantinel – e houve outras antes dessa última – não surgem do nada, se retroalimentam e ganham força quando são naturalizadas, quando não há muita reação a elas, como se não houvesse problema com o conteúdo. Essas declarações são fundamentadas em uma visão de mundo ancorada em posições políticas, que não caem do céu, mas surgem porque há representatividade política suficiente. O número de pessoas que concordam com Fantinel é, de fato, uma incógnita. Mas não é um contingente desprezível.
“Somos todos iguais”, encerra Fantinel o seu pedido de desculpas, dizendo-se “profundamente arrependido”. Tomara tenha aprendido de fato essa lição de vida. E se convencido dela. Mas terá de responder pelo que falou.