A bandeira vermelha, quando chega, traz embutida nela a confissão de que deveria ter vindo algum tempo, algumas semanas antes, para prevenir. O caráter preventivo ficou esquecido como critério definidor das bandeiras pelo governo do Estado.
Já que chegou a bandeira vermelha, quando a condição de risco alto de contágio a colocou como imperativo, cada município sai a adotar suas providências próprias. Caxias, por exemplo, adotou uma força-tarefa de fiscalização. De novo, o componente preventivo foi deixado de lado, pois a fiscalização mais rigorosa poderia impedir futuras bandeiras vermelhas. Estava evidente que a bandeira vermelha voltaria. Por aqui já foram realizados eventos e até um rodeio na Festa da Uva em que a condição de aglomeração foi além do que a prudência exigia. Ocorreram sem que a fiscalização conseguisse regular a realização em condições adequadas. Em outras situações, estabelecimentos flagrados desrespeitando as regras foram reincidentes, em um desrespeito duplo. A fiscalização tem de impor respeito. Não pode começar e afrouxar logo a seguir. Tem de ser para valer. A fiscalização também deve ser fiscalizada.
Desde o início, em Caxias do Sul, faltou o sinal da luz alta, e seu significado inerente. É até um bordão popular, "dar luz alta". Significa deixar claro que não está tudo liberado, que está havendo monitoramento, e esse procedimento tem claro efeito inibidor, até pelo respeito que impõe.
Em Vacaria, o prefeito Amadeu Boeira (PSDB), oportunamente, dá "luz alta" ao decretar condições similares às do toque de recolher entre 22h e 6h do dia seguinte. Pois toque de recolher só cabe em situações muito restritas. A prefeitura deixa claro que a medida tem mais efeito de conscientização, mas ela mostra que o poder público está na área. É decisivo, é uma sinalização clara, para que depois não se lamente, como tem sido corriqueiro nesta pandemia, que a população não tem consciência. Ora, se em parte é verdade, a população também se sente à vontade, sente-se mais liberada quando não há sinalização.
Em Gramado, está liberado. A Rua Coberta foi uma aglomeração só no fim de semana, e a prefeitura diz que não pode impedir que as pessoas visitem Gramado. Não pode mesmo, mas pode regular a circulação para evitar zonas de aglomeração que vão produzir contágio, que vão aumentar a ocupação de leitos e UTIs. Não pode assistir de mãos abanando. Não significa fechar praticamente nada, mas formular regras adequadas e impor respeito. As administrações públicas não podem fugir de suas responsabilidades.