A Feira do Livro começa semana que vem, na Praça Dante. Uma das melhores coisas da atual administração foi devolver a Feira do Livro à Praça Dante, e até interromper o trânsito na Dr. Montaury, como foi no ano passado. Gol para a cidade.
Há poucos anos, também, a Feira do Livro na mesma Praça Dante envolveu-se em uma polêmica por causa dos ratos. Alguns deles chegaram a ser encontrados em barracas e livros foram roídos. Aquilo foi um deus-nos-acuda. Cuidou-se logo da desratização.
Ratos, entre nós, são vistos como transmissores de doenças em potencial, por seu hábito de circular por ambientes e lugares sujos e fétidos. Também emprestam qualificadoras depreciativas. Você é um homem ou um rato? Na nova versão de Rei Leão no cinema, é emblemático que, em sua cena inicial, o filme mostre o drama de um rato, bem seguro nas garras de Scar, o velho e magro leão irmão do rei Mufasa, em uma versão marginalizada. Scar faz um pequeno discurso, com o rato – que depois irá soltar – bem preso em suas patas. Parece deliciar-se com o poder de uma vida nas mãos. Em síntese, seu discurso diz: a vida é injusta; enquanto uns nascem leões, outros nascem ratos.
Pobres ratos. Mas ratos são seres vivos. Gosto desses personagens, que estimulam contradições. As gerações recentes são generosas com a criação de ratinhos simpáticos. Começa por Mickey Mouse, um dos personagens mais adorados de Walt Disney, que ano passado completou 90 anos. Outro ratinho que sempre contou com a admiração e a torcida geral e acompanhou a evolução tecnológica dos aparelhos de tevê é o impagável Jerry, em suas rusgas e artimanhas com o gato Tom. Jerry atravessa décadas. Tem ainda o Topo Gigio, que tantos haverão de lembrar, e foi apelido de muita gente, um orelhudo e encantador ratinho italiano popular nos anos 70 e também nos 80. Falava e agia como uma criança de 5 anos. São ratinhos simpáticos, todos eles, como que a tentar pacificar consciências.
Na música, os Titãs fizeram alguma justiça aos ratos. Ainda que os incluíssem na categoria dos “bichos escrotos”, chamava-os a sair dos esgotos e atribuía a eles uma função essencial, de incomodar zonas de conforto, convidados que são a entrar “nos sapatos do cidadão civilizado”.
Tem ainda o rato no horóscopo chinês. Meu signo, aliás. Ano que vem, 2020, é ano do rato. O rato do zodíaco é portador de bons presságios e características, do que estamos precisando na quadra atual da existência nacional. Que o rato nos ajude. Nossas cobaias incondicionais, os ratos são importantes: marcam presença, e trazem à tona nossas contradições.